sábado, 28 de novembro de 2015

Utiel-Requena



Vinhedos das Bodegas Vegalfaro, vinícola fundada em 1999 por Andrés e Rodolfo Valiente (pai e filho).


            A Espanha possui a maior área cultivada de Vitis Vinifera do mundo, embora em volume de produção ocupe somente a terceira posição. Trata-se de um amplo território o qual nos presenteia, ano após ano, com vinhos exuberantes e geralmente de bastante personalidade: o emblemático Jerez fortificado da Andaluzia, tintos de Rioja, Priorat e Ribera Del Duero, brancos de Rueda, entre outros. É natural que, entre as 13 macrorregiões a qual está dividida, existam sub-regiões as quais permaneçam relativamente ocultas do grande público, mesmo daquele consumidor habitual de vinhos. Algumas preferem manter o “anonimato”, dedicando sua produção ao consumo regional; outras, porém, dedicam esforços incansáveis no sentido de promover seu terroir, suas cepas endêmicas, a tipicidade de seus vinhos e as melhorias em seu processo produtivo. Este é o caso de Utiel-Requena.


Sua História

            Recentemente, foram descobertos registros arqueológicos que comprovam que, desde o século V a.C., era praticada a vitivinicultura na região de Utiel-Requena. Sítios arqueológicos como El Molón, em Camporrobles, Las Pilillas, em Requena e Kelin, em Caudete atestam o passado vinícola da região. Quando do domínio romano sobre a região, estes introduziram novas técnicas de vinificação, propiciando a melhora dos vinhos ali produzidos.


El Molón e suas ruínas datadas da Antiguidade.


Utiel-Requena têm sua história também ligada ao período conhecido como Reconquista: a retomada, a partir do século VIII, do controle europeu dos territórios da Península Ibérica, dominados pelos árabes (mouros) desde o século VI. Muitas das cidades da região foram fundadas e/ou possuem grande influência islâmica em suas construções, bem como vestígios de fortalezas e construções mouras, como a cidade de Chera, por exemplo. Em 1238, a região cai sob o domínio do reino de Castela. No século seguinte, após conflitos envolvendo este reino e seu vizinho, Aragão, ocorre a união entre a rainha Isabel (Castela) e Fernando (Aragão), conhecidos como os Reis Católicos, e, após a conquista dos demais reinos ibéricos por estes (exceto Portugal), constitui-se o Reino da Espanha. Utiel-Requena, consequentemente, torna-se domínio espanhol.


Fortaleza moura nos arredores de Chera: testemunho do domínio islâmico em Utiel-Requena antes da Reconquista espanhola.


Durante o século XIX, eclodem na Espanha as Guerras Carlistas, que dividem a população espanhola entre os partidários do absolutismo e do liberalismo; reflexo de outras manifestações do mesmo cunho ocorridas Europa afora. Utiel (absolutista) e Requena (liberal), assim como as demais cidades da região, assumem posições antagônicas, situação somente resolvida com a conclusão da Primeira Guerra Carlista.
           
           
Sua Localização


Localização de Utiel-Requena.


            Utiel-Requena localiza-se na porção leste do território espanhol, dentro da província de Valencia. Situa-se numa zona de transição entre a costa mediterrânea e os platôs da região da Mancha. Seus vinhedos localizam-se predominantemente entre os rios Turia e Cabriel.



Seu Clima e Solo

A região possui um dos climas mais severos de toda a Espanha. Os verões costumam ser longos e quentes (máximas por vezes de 40 graus), enquanto os invernos são muito frios, com ocorrência freqüente de geadas e granizo (mínimas podem chegar a -10 graus). No entanto, as vinhas encontram-se adaptadas a tais rigores e oscilações e, como atenuante, sopra do Mar Mediterrâneo o Solano, vento frio que ajuda a suavizar o efeito dos quentes verões da região. O solo possui cor escura, de natureza calcária e pobre em matéria orgânica.


Suas Sub-Regiões


Vinhedos da Bodega Torre Oria.


            Utiel-Requena é uma DOP (Denominación de Origen Protegida – Denominação de Origem Protegida) pertencente a Comunidad Valenciana, a qual possui certa autonomia em relação ao governo central espanhol. Não possui sub-regiões.


Suas Castas

            Tradicionalmente, Utiel-Requena é a terra da Bobal, cepa tinta autóctone (originária da região) bastante adaptada aos rigores do clima da região. Ocupa 75% da superfície total dos vinhedos, também sendo bem adaptada ao calcário típico do seu solo. São produzidos rosés e tintos, em sua maioria varietais, desta cepa; os primeiros costumam ser muito aromáticos, remetendo geralmente a frutas negras e muito frescos no paladar. Os tintos, por sua vez, geralmente são muito bem estruturados e potentes, com aromas de frutas maduras, especiarias e notas de couro. Possuem bom potencial de envelhecimento. Uma curiosidade: quando da expansão da filoxera pelo continente europeu, as vinhas de Bobal demonstraram grande resistência à praga, ao contrário da maior parte do vinhedo do continente, o que permitiu à região manter por algum tempo as plantações sem a enxertia com a videira americana, e também propiciou um grande aumento das vendas e exportações de seus vinhos, avidamente procurados por consumidores “puristas”, em busca de vinhos oriundos de videiras sem a enxertia.



Cepa Bobal.


            Também se faz presente a cepa Tempranillo, plantada em cerca de 12% das vinhas da região. Outras cepas tintas permitidas pela legislação: Garnacha (Grenache) Tinta, Garnacha Tintorera, Cabernet Sauvignon, Mertlot, Syrah, Pinot Noir, Petit verdot e Cabernet Franc.

Diante da predominância tinta, naturalmente a participação das vinhas brancas na composição da denominação é baixa: cerca de 6%. A cepa mais cultivada é a também autóctone Tardana, de amadurecimento tardio. Produz vinhos de cor amarela, pálidos com reflexos dourados. Os aromas geralmente remetem a frutas como abacaxi e maçã. Frescos e equilibrados no paladar, costumam ser bem estruturados e de boa persistência na boca.



Cepa Tardana.


Outro variedades brancas plantadas são: Macabeo, Merseguera, Chardonnay, Sauvignon Blanc, Parellada, Verdejo e Moscatel de grano menudo.


Seus Principais Produtores

            Seguem nomes de alguns dos mais renomados produtores de Utiel-Requena:
           
  • Bodegas Carlos Carcél;
  • Vinícola Requenense;
  • Coviñas;
  • Bodega Finca La Picaraza;
  • Virgen de Loreto;
  • Bodegas Utielanas;
  • Bodegas Sinarcas;
  • Bodegas Pedro Moreno;
  • Haecky;
  • Bodegas Murviedro;
  • Vicente Gandía Plá;
  • Torre Oria;
  • Latorre;
  • Bodegas Castillo San Damián;
  • Bodega Aranleón;
  • Bodegas Iranzo;
  • Bodegas Proexa;
  • Enotec;
  • Bodegas Nodus;
  • Finca San Blas;
  • Ecovitis;
  • Bodegas Vegalfaro;
  • Dominio de La Vega;
  • Pago de Tharsys;
  • Bodegas Ladrón de Lunas;
  • Cerro Gallina;
  • Noemi Wines.


Vinho Degustado: Al Vent Bobal 2011 (DOP Utiel-Requena)



            A Bodegas Coviñas têm sua origem no ano de 1965, e sempre teve sua visão tanto para o mercado local quanto para os mercados emergentes. Porém, cabem alguns detalhes sobre sua estrutura: trata-se de uma cooperativa, composta por 12 cooperativas de Utiel-Requena (San Antonio, Roma, El Derramador, Barrio Arroyo, Campo Arcis, Villagordo del Cabriel, Los Isidros, Los Duques, Hortunas, La Portera, Las Monjas e Viticultores de Requena), constituindo uma área total cultiva de cerca de 11.000 hectares, o que corresponde a cerca de 40% do vinhedo total de Utiel-Requena. As uvas são entregues por estas “sub-cooperativas” para que sejam avaliadas pela Coviñas quanto à sua qualidade. Uma vez tomada a decisão, as uvas serão devolvidas para a “sub-cooperativa”, a qual produzirá seus vinhos.

Suas principais linhas de produtos são: Enterizo, Al Vent, Marques de Plata, Peña Tejo, Aula, Viña Decana, Rojiñón e Requevin. No entanto, o comitê da bodega sempre avalia novas possibilidades de acordo com a qualidade das uvas colhidas, e novas linhas ocasionalmente são lançadas.

           Vinho adquirido na loja O Melhor Vinho do Mundo.


Análise Visual

            O vinho apresentou visual límpido, de média intensidade, borda de tons rubi-claros, núcleo rubi.
  
Análise Olfativa

            Os aromas apresentaram média intensidade. São primários: frutas negras maduras, levemente mentolado, notas tostadas e de pimenta e cravo.

Análise Gustativa

            Seco, apresentou alta acidez, taninos macios porém bem marcados, corpo de alta intensidade, sabor de especiarias, tostado e frutas negras, álcool médio para alto, persistência alta.


Considerações Finais

            Vivaz, de boa potência, fresco, encontra-se em seu auge. Bom parceiro para carnes untuosas de aves, massas de molho vermelho (porém sem muita picância) ou mesmo solo.


Pontuação: 88 FRP



Fontes:

Ruta del Vino – Utiel-Requena: http://www.rutavino.com

Site oficial da região: www.utielrequena.org


2 comentários:

  1. Quem diria o vinho que escolhi pela linda garrafa sendo bem avaliado por vc meu amor.

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  2. Parabéns pelo vinho muito bom, amei de coração.

    Um dos melhores que ja expermentei. E olh que nao foi pouco.viva Espanha.

    Vou quer mais...kkkk

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