terça-feira, 1 de dezembro de 2015

O Vinho e o Fim do Ano




Instalam-se lâmpadas. Montam-se árvores. Compram-se presentes. E, claro, saúda-se a chegada de Cristo e o prenúncio de um novo ciclo. Festas, confraternizações, reuniões e reencontros, sempre regados a fartos banquetes e bebidas. A imagem do espumante sendo aberto chamativamente, no Natal e, em especial, no chamado “réveillon” (termo francês que, inicialmente, designava o jantar realizado na noite de Natal; posteriormente, à ceia da véspera da passagem de ano e, hoje em dia, ao Ano Novo em si) é emblemática: as compras para as festas de fim de ano obrigatoriamente passam pelo setor de vinhos do supermercado (por vezes, a própria loja destaca o produto, deslocando-o para locais mais movimentados).

Ano Novo requer um espumante, e o Natal, também (podendo haver algum tinto para acompanhar as refeições). Requer? Não necessariamente. A vastidão e as possibilidades no mundo do vinho permitem que possamos “arriscar” estilos que, certamente, podem fazer muito sucesso junto aos convivas nas festas. Este post apresentará alguns vinhos já degustados por este que vos escreve, cuja proposta, estilo e caráter podem encaixar-se adequadamente aos festejos vindouros. Porém, tenha sempre em mente que o melhor vinho é aquele que você gosta: é a paixão correspondida, entre você e o produtor. À lista:

  




Aurora Moscatel (D.O. Vale dos Vinhedos, Brasil):  corte das variedades Moscato Bianco e Moscato Giallo. Rótulo detentor de nada menos do que 66 medalhas e distinções. Recentemente, ficou na posição 56 entre os melhores vinhos do mundo, segundo ranking realizado pela Associação Mundial de Jornalistas e Escritores de Vinhos e Licores (WAWWJ).

Análise visual: límpido, média intensidade, borda incolor e núcleo entre o palha e o esverdeado;

Análise olfativa: aromas primários intensos de fruta tropical, algo "melado" e toques florais, remetendo à lavanda;

Análise gustativa: doce, muito ácido, o frutado e o mel discreto aparecem novamente, corpo leve para médio, álcool discretíssimo, persistente. 

Considerações finais: doce, sedutor. Mas a melhor palavra seria "perfeccionista". Típico espumante nacional, que se destaca pela perfeição dos aspectos inerentes ao que é produzido por aqui. As distinções parecem justas. 

Pontuação: 92 FRP

Sugestão: véspera de Natal / virada Ano Novo. Como aperitivo ou acompanhado de sobremesas lácteas.







Villa Francioni Rosé 2014 (Serra Catarinense, Brasil): rosado nacional, blend de uma verdadeira constelação tinta: Cabernet Sauvignon, Cabernet Franc, Merlot, Malbec, Syrah, Sangiovese, Pinot Noir e Petit Verdot (cadê a Carmenere, Tannat e a Tempranillo? Rsrs).

Análise visual: coloração vívida e límpida, cobre no núcleo e incolor nas bordas;

Análise olfativa: aroma primário de média intensidade (floral e algo frutado), evoluindo para algo amanteigado;

Análise gustativa: boa acidez na boca, médio álcool, corpo leve, floral e algo herbáceo; média persistência e final alongado.

Considerações finais: fresco, equilibrado, vívido. E de uma cor belíssima.

Pontuação: 90 FRP

Sugestão: dia de Ano Novo. Bom acompanhamento para frutos do mar e peixes brancos.







Carugio Terre di Mare Bianco 2013 (DOC Colli di Luni): branco italiano da região da Ligúria, próxima à fronteira com a França, região não muito conhecida pela produção de vinhos. Corte interessante de Albarola, Trebbiano e Vermentino.

Análise visual: límpido, de média intensidade, borda incolor e núcleo amarelo palha, pendendo, com reflexos esverdeados;

Análise olfativa: aromas intensos e primários, remetendo a maracujá, e também um toque herbáceo;

Análise gustativa: seco, de acidez média, sabor intenso e frutado, com algo untuoso; bom corpo e persistência alta.

Considerações finais: equilibrado, fresco, com personalidade. “Marítimo”, difícil de explicar.

Pontuação: 91 FRP

Sugestão: Natal e Ano Novo (almoço). Acompanha bem frutos do mar, peixes oleosos, massas ao alho e óleo.







Santa Augusta Moscatel (Vale do Contestado, Brasil): espumante nacional elaborado em Santa Catarina, no Vale do Contestado, Medalha de Ouro no VII Concurso Internacional de Vinhos no Brasil 2014. A vinícola Santa Augusta detém algumas primazias no mercado nacional, como ter produzido o primeiro vinho biodinâmico e o primeiro vinho passito do País. Os vinhedos estão localizados a 900 metros, ou seja, um chamado "vinho de altitude".

Análise visual: visualmente límpido, de baixa intensidade. Coloração transparente na borda, amarelo palha no núcleo;

Análise olfativa: aromas intensos e primários, especialmente frutado (cítrico, pêssego, mamão) e flor de laranjeira;

Análise gustativa: doce, alta acidez, cremoso, sabor intenso de frutas maduras, bom corpo e álcool médio, boa persistência.

Considerações finais: muito equilibrado em doçura e acidez, correto. Evoca a região em que é produzido.

Pontuação: 93 FRP

Sugestão: Ano Novo, almoço de Natal. Acompanhamentos: ostras frescas, porções de peixes ou frutos do mar, ave grelhada. Doces à base de frutas. Também funciona como aperitivo.







Vinhetica Terroir de Rosé 2014 (Campanha, Brasil): rosado nacional de uma vinícola ainda iniciante, criada por um enólogo francês disposto a explorar o potencial de cepas relativamente desconhecidas em nosso país. Seus produtos vêm ganhando destaque no mercado nacional. Este vinho possui um corte de Merlot e Teroldego (a safra 2014/2015 agregou a cepa Syrah ao corte).

Análise visual: visual límpido, de baixa intensidade: borda incolor e núcleo rosado, pendendo para o cobre;

Análise olfativa: aromas de média a alta intensidade a alta, primários, remetendo a frutas vermelhas. Notas florais;

Análise gustativa: seco, de acidez alta, sabor intenso de frutas e alguma untuosidade, corpo leve, persistência média.

Considerações finais: muito agradável, saboroso, vivo. Um “vinho de piscina”.

Pontuação: 92 FRP

Sugestão: Ano Novo (virada/almoço). Combina muito bem com dias quentes. Acompanhamentos sugeridos: frutos do mar, petiscos leves ou como aperitivo.







Ventisquero Queulat Gran Reserva Pinot Noir 2012 (D.O. Casablanca, Chile): tinto chileno, varietal, produzido por uma honesta vinícola, este rótulo estagia 10 meses em barricas de carvalho francês. O nome “Queulat” refere-se a uma geleira existente no sul do território chileno, na região da Patagônia.

Análise visual: límpido, de média intensidade, apresentando borda rubi-clara e núcleo rubi;

Análise olfativa: aromas intensos e primários, porém em início de evolução, de alta intensidade, remetendo a goiaba, algo floral, bem como notas de especiarias e um toque levemente terroso;

Análise gustativa: seco, de média acidez, taninos leves, sabor intenso de especiarias e frutas frescas, corpo leve e álcool baixo. Persistência boa.

Considerações finais: um Pinot Noir um pouquinho diferente do estilo habitual do Novo Mundo, muito bem feito e elegante.

Pontuação: 91 FRP

Sugestão: Natal e Ano Novo (almoço/ceia). Acompanha bem carnes mais gordurosas e oleosas, massas com molho vermelho (não-picantes) e risotos.







Veuve D'Argent Blanc des Blancs Brut (Borgonha, França): espumante francês (Borgonha) que, como o rótulo indica, é produzido inteiramente com uvas brancas (Airen, Ugni Blanc, Colombard, Durello, Macabeu e Chardonnay).

Análise visual: visual límpido, de média intensidade, com borda incolor e núcleo amarelo dourado;

Análise olfativa: aromas primários de média intensidade, remetendo a frutas carnosas (maçã, pêra), notas minerais e de pão;

Análise gustativa: seco, apresenta alta acidez, sabor intenso de frutas e notas minerais, certa cremosidade, álcool médio e persistência boa.

Considerações finais: um Brut descontraído, jovem, fácil de gostar.

Pontuação: 89 FRP

Sugestão: Ano Novo (virada/almoço). Acompanha bem temaki de salmão, sushi, salmão grelhado, bem como servido como aperitivo.








Via Latina Alvarinho 2012 (D.O.C. Vinho Verde, Portugal): belo vinho verde lusitano desta cepa típica de Portugal, com corte 100% Alvarinho. Vinho distinguido com a Medalha de Prata no Wine Masters Chellenge 2012.

Análise visual: límpido, de média intensidade, com borda incolor e núcleo verde claro;

Análise olfativa: aromas primários, de alta intensidade, remetendo a frutas cítricas, com notas florais;

Análise gustativa: seco, com acidez média, sabor de média intensidade de frutas cítricas não muito maduras, álcool baixo, corpo leve, persistência baixa.

Considerações finais: agradável, vívido, delicado. Ótimo para dias quentes.

Pontuação: 87 FRP

Sugestão: almoços de Natal e Ano Novo, virada de Ano Novo. Acompanha perfeitamente peixes marinhos, carnes leves ou servido como aperitivo.







Domini 2009 (D.O.C. Douro, Portugal): tinto português (blend de Touriga Franca, Touriga Nacional e Tinta Roriz), com rápida passagem por barricas de carvalho, elaborado pela gigante e conceituada José Maria da Fonseca, mais antiga produtora de vinho de mesa de Portugal.

Análise visual: visual límpido, de alta intensidade, com bordas de tons violáceos e núcleo rubi escuro;

Análise olfativa: aromas de alta intensidade, primários, de frutas vermelhas, com um sutil toque amadeirado;

Análise gustativa: seco, de taninos leves e acidez baixa, apresenta sabor intenso frutado, bom corpo, álcool médio, persistência média.

Considerações finais: equilibrado, suculento, redondo. Vinho muito bem feito.

Pontuação: 89 FRP

Sugestão: Natal (almoço/ceia), Ano Novo (almoço). Acompanha muito bem massas ao molho vermelho, carne suína assada, bacalhoada, risotos de sabores pronunciados.







Marqués de Tomares Excellence 2006 (D.O.Ca. Rioja, Espanha): tinto espanhol elaborado pela ótima e competente bodega Marqués de Tomares, com produção limitada a 20.000 garrafas. Composta de um corte majoritariamente de Tempranillo, porém também conta com a presença da cepa autóctone Graciano.

Análise visual: visual límpido, de alta intensidade, borda rubi e núcleo rubi escuro;

Análise olfativa: aromas intensos e primários (com sinais de evolução) de frutas vermelhas como framboesa e com um toque tostado instigante. Também é perceptível uma nota que remete a azeitona;

Análise gustativa: seco, de média acidez, taninos corretos          , corpo médio, sabor intenso de frutas maduras e forte nota tostada, álcool médio, persistência idem.

Considerações finais: jovem pela sua idade, em desenvolvimento, muito correto.

Pontuação: 90 FRP

Sugestão: Natal e Ano Novo (almoço). Acompanha muito bem carnes vermelhas como cordeiro, javali ou porco assados, animais de caça, massas de molhos picantes. Também acompanha com competência um churrasco.







Miolo Gamay 2014 (Campanha, Brasil): tinto nacional que têm como claríssima inspiração os Beaujolais franceses, vinhos geralmente varietais da cepa Gamay produzidos na sub-região homônima, localizada ao sul da Borgonha. Trata-se de um dos produtos que tornou-se emblemático da Miolo, que costuma estampar em seus rótulos quadros de pintores famosos, como o da safra 2014, que exibe O Abaporu, obra máxima da pintora brasileira Tarsila do Amaral.

Análise visual: límpido, de baixa intensidade, com borda rubi-clara e núcleo rubi;

Análise olfativa: aromas primários, de média intensidade, remetendo a frutas maduras e uma deliciosa nota de goiaba;

Análise gustativa: seco, acidez média, taninos leves, sabor frutado de média intensidade, corpo muito leve, álcool baixo, persistência média.

Considerações finais: gostoso, muito agradável e bem feito. Alegre, como deve ser todo vinho no estilo Beaujolais.

Pontuação: 90 FRP

Sugestão: Ano Novo (Virada). A servir como aperitivo ou acompanhado de queijos de massa mole, bem como torradinhas com patês de sabor mais delicado.







Sabor Real Tempranillo 2008 (Toro, Espanha): tinto espanhol varietal, feito pela relativamente jovem Bodegas Campiña, com estágio de 10 meses em barricas de carvalho francês. A denominação onde é produzido (Toro) é tradicionalmente responsável por vinhos muito potentes e encorpados, caso deste típico representante.

Análise visual: límpido, de alta intensidade, borda rubi clara, com núcleo rubi;

Análise olfativa: aromas predominantemente secundários, de média intensidade, apresentando frutas negras, especiarias (em particular cravo), azeitona e tabaco;

Análise gustativa: seco, de acidez média, taninos relativamente discretos, sabor intenso de frutas negras e cravo, encorpado, potente no álcool e de alta persistência.

Considerações finais: opulento, intenso, potente. Em seu auge.

Pontuação: 93 FRP


Sugestão: Natal (almoço) e Ano Novo (almoço). A servir com carnes vermelhas assadas, massas recheadas e com molho de sabor forte. Acompanha muito bem um churrasco.



Nenhum comentário:

Postar um comentário

Todo comentário é bem-vindo e agregador. Porém, liberdade de expressão e respeito devem andar juntos. Comentários com teor que viole tais condições serão avaliados e excluídos.