O Brasil é um consumidor “jovem” de
vinhos de qualidade. Possuímos uma história recente de interesse, tanto no
consumo quanto na produção de rótulos ditos “finos”, ou seja, aqueles derivados
da fermentação de Vitis Vinifera.
Portanto, ainda temos uma longa história a construir, lendas a cultivar,
inovações a propor. Essa maturidade a ser conquistada, naturalmente, envolve o
aprendizado com outras culturas mais “avançadas” do universo do vinho. Porém,
nem sempre o contato é feliz, embora sempre seja proveitoso. É o caso vivido no
Brasil pelo vinho alemão.
Rheingau. Mosel. Pfalz. Destas
regiões, saem alguns dos mais atraentes e poderosos vinhos brancos do mundo. A
despeito da presença de cepas como a Gewurztraminer, Pinot Gris (conhecida na
Alemanha por Grauburgunder) e um crescente interesse pela tinta francesa Pinot
Noir (ou Spätburgunder), em terras germânicas a Riesling é a rainha. Em
pouquíssimos lugares do planeta (talvez nenhum, exceto a francesa Alsácia),
esta cepa conseguiu expressar toda a sua força e suas peculiaridades. Em breve,
apresentaremos uma região alemã e, claro, um Riesling de qualidade para vocês.
No entanto, ao conversarmos em uma
roda de amigos sobre vinhos, muito provavelmente alguns nomes acabam vindo à
pauta: França, Itália, Portugal, Chile. Por vezes, cepas: Malbec, Cabernet
Sauvignon, até mesmo Chardonnay aparece no bate-papo informal. E, por vezes,
nomes de regiões: Porto, Douro e, principalmente, Champagne, Bordeaux. Às
vezes, Borgonha. A menção aos vinhos alemães, contudo é raríssima. E, quando
ocorre, muitas vezes é de forma pejorativa: ao lado dos famigerados “vinhos de
mesa”, muito populares no Brasil, é mencionado o “vinho de garrafa azul”.
Este vinho, conhecido como Liebfraumilch (tradução literal do alemão:
“leite da mulher amada”, porém o tradução correta seria “Monge de Nossa
Senhora”), é um branco semi-doce produzido em diversas regiões alemãs,
inclusive as principais produtoras de vinhos brancos de qualidade, como as já
citadas Rheingau, Mosel e Pfalz, geralmente varietais da cepa Müller-Thurgau.
Müller-Thurgau.
Sua história no Brasil remonta aos
anos 1970, quando o importador brasileiro Otávio Piva de Albuquerque, em
contato com o produtor alemão do vinho, Josef Friederich, sugere a este a comercialização
de seu produto no Brasil, porém envasado em garrafas azuis e a um preço bem
acessível. A estratégia foi muito bem-sucedida: nos anos 1980, cerca de 60% do
vinho que era importado pelo Brasil vinha em garrafas azuis alemãs. Uma grande
tacada de Otávio, que ainda veria, com o fim da reserva de mercado no governo
Fernando Collor de Melo (1990-1992), sua importadora Expand aumentar
exponencialmente sua participação no mercado.
De início, os produtores nacionais
mostraram certa relutância ao novo modismo: a indústria vinícola nacional dava
seus primeiros passos em evolução técnica e tecnológica e mostrava sinais de
vigor em sua expansão. Com o tempo, porém, os principais produtores nacionais
acabaram cedendo e produziram seus próprios vinhos brancos suaves, muitas vezes
a contragosto. Alguns produtores chegaram mesmo a engarrafar seus produtos em
garrafas azuis, como a Salton e seu Rannisch Wein.
Salton Rannisch Wein.
As vendas permaneceram bastante
aquecidas até o início dos anos 2000 (somente o Rannish Wein supracitado vendia
em torno de 2,4 milhões de garrafas/ano; o Liebfraumilch,
algo em torno de 850.000). No entanto, aos poucos o consumidor médio brasileiro
começou a perceber que o “vinho da garrafa azul” era de qualidade, no mínimo, duvidosa,
e as vendas começaram a despencar. Ainda assim, por volta de 2008, o volume de
vendas do Liebfraumilch registrava cerca
de 720.000 garrafas/ano). Muitos produtores nacionais, livres do viés
financeiro e ansiosos por produzir rótulos de maior qualidade e valor agregado,
abandonaram seus “clones”. Alguns ainda o produzem, como a vinícola Aurora e
seu Reserva Especial.
Aurora Liebfraumilch Reserva Especial.
O grande problema gerado pelo Liebfraumilch, no entanto, seria de
ordem cultural: o brasileiro associou o produto ao vinho produzido na Alemanha
como um todo e, uma vez desprezado, criou-se uma “barreira” ao vinho germânico,
muito injustamente associado a produtos baratos e de qualidade discutível. É um
cenário que, junto ao público leigo, permanece até hoje.
Não se deve culpar o Liebfraumilch por “atrasar” a evolução
da nossa cultura e indústria vinícola. As variáveis mercadológicas que o
levaram ao sucesso sempre vão existir. Ainda hoje, é possível encontrá-lo em
mercados e, até há pouco tempo, na própria rede da Expand, discretamente,
vendido ainda a um preço acessível. Cabe, pelo contrário, agradecermos a este
episódio de nossa jovem história do vinho: foi através dele que muitos
brasileiros tiveram o primeiro contato com a bebida e os instigou a
experimentar, estudar, avaliar, questionar. E também permitiu um amadurecimento
necessário e bem-vindo da nossa indústria de vinhos.
Este vinho pode ser guardado? tenho um ha quase 20 anos... será que virou vinagre?
ResponderExcluirVish , virou vinagre, sabe porquê, vinho não se guarda em vidro, em barris sim, em garrafa de vidro do pra consumo imediato.
ExcluirJá virou vinagre.
ResponderExcluirrealmente esse vinho foi histórico nos anos 90 , meu pai alemão sempre consumia geladinho no verão , Ótima recordação. Vou procurar comprar uma garrafa pra relembrar. .
ResponderExcluirAcabei de abrir uma garrafa que guardei por anos, mais preciso 20 anos. Estou degustando aos poucos. Somente uma dose diária. Saudades daquelas épocas.
ResponderExcluirabri o meu uns meses atras mas oxigenou... infelizmente não estava apropriado!
ResponderExcluirQuanto custa uma garrafa desse vinho?
ResponderExcluir29,99
ExcluirA garrafa verde 29.99
ExcluirDelicioso! Já tomamos muito nós anos 90! Mas ultimamente não encontro no mercado! Tenho um irmão que em seu casamento serviu só vinho e água! Muito bom!!
ResponderExcluirComprei hoje em um supermercado de Natal RN. Ansioso para provar. Valor: $ 69,90
ResponderExcluirEu adorava esse vinho, comprava sempre...final dos anos 90 depois ne transferi parava Europa e conheci o gewurztraminer. Hoje meu vinho preferido
ResponderExcluirQual é o original é da garrafa azul ou verde
ResponderExcluirTenho uma garrafa desse vinho datada do ano 2000.
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