domingo, 6 de dezembro de 2015

Russian River Valley

  


Vinhedos da Foppiano Wineyards, no Russian River Valley.



            Os EUA é, ainda hoje, a maior potência política e econômica existente. Seu poder de influência estende-se por todos os cantos do planeta e, naturalmente, um dos braços deste “polvo” é a indústria do entretenimento. Juntamente com o maravilhoso mundo criado pelo gênio de Walt Disney, há a poderosa fábrica cinematográfica estadunidense, responsável pela produção de filmes lendários e marcantes, os quais muitas vezes servem de vitrine e propaganda para os ideais e rumos os quais a nação pretende imprimir ao restante do planeta. E, falando do cinema dos EUA, obviamente, Hollywood não pode ser ignorada.



Vinícola Francis Ford Coppola, Russian River Valley.


            Hollywood produz anualmente centenas e centenas de filmes, de todos os gêneros e temáticas. Estórias reais ou ficcionais, açucaradas ou extremamente violentas, ou mesmo cômicas, tendo como pano de fundo a Segunda Guerra Mundial, a Idade Média, o Velho Oeste, o mundo atual e o futuro, as quais versam sobre pessoas, o mundo, questões existenciais, problemas sociais... Com um leque tão amplo, Hollywood também falaria de vinhos em seus filmes, como protagonistas ou suporte para a estória principal. Não entraremos de forma mais aprofundada nesta grande seara, a qual será objeto de futuro post, mas cabe a menção a um filme realizado em 2004, em que o vinho serve como pano de fundo para a estória: Sideways, dirigido por Alexander Payne. Essencialmente, o filme fala sobre a dificuldade de lidarmos com a perspectiva de um futuro o qual não desejamos e que talvez não tenhamos a maturidade necessária para encará-lo, tendo o vinho como coadjuvante. O personagem principal é um grande apreciador de vinhos, e em alguns momentos, demonstra uma particular paixão pela uva Pinot Noir. O filme, excelente por sinal, além de garantir prêmios para os seus realizadores, despertou grande interesse do público por vinhos, e provocou um aumento significativo das vendas de rótulos contendo esta cepa, nos EUA. E, ao analisarmos o imenso território americano, identificaremos uma região em específico, onde a Pinot Noir encontrou condições de desenvolvimento muito semelhantes à sua terra natal: estamos falando do Russian River Valley, localizado relativamente próximo a... Hollywood.


Sua História

            A região conhecida como Russian River Valley (Vale do Rio Russo) teve sua ocupação humana iniciada no século XIX, com a vinda e estabelecimento de imigrantes oriundos de países da orla do Mediterrâneo. De início uma atividade familiar, toda a produção era destinada ao consumo dos colonos.




A vinícola MacMurray, no início do século XX.



Com o decorrer das décadas, e devido à qualidade do vinho produzido na região, a atividade tornou-se uma indústria e, no início do século XX, haviam cerca de 200 vinícolas estabelecidas. Porém, com o advento da Lei Seca nos EUA veio a decadência. Muitas vinícolas abandonaram o negócio. Algumas optaram por produzir um “vinho” a base de água e açúcar conhecido como Jackass Brandy, para sobreviver. Outras, no entanto, preferiram viver na ilegalidade. Quando do final desse período da história americana, os poucos produtores ainda em atividade estavam vendendo as uvas colhidas em seu vinhedo para produtores de jug wine, um vinho semelhante aos vinhos “suaves” produzidos no Brasil.

           


Jug wine americano.


            A reviravolta viria nos anos 70, com o direcionamento dado por muitos produtores para produção de vinhos de qualidade. A Foppiano Wineyards foi a primeira vinícola a exibir o nome “Russian River” em seus rótulos, em 1973. Ao mesmo tempo, gigantes da indústria vinícola americana, como E & J Gallo e Kendall Jackson compraram e iniciaram investimentos na produção de vinhos de qualidade na região, na mesma época.  A recompensa do esforço veio em 1983, com a aprovação da região como AVA (American Viticultural Área, o equivalente às Apelações de Origem Controlada – AOC - da França e às Denominações de Origem Controlada – DOC – da Itália).

           
           
Sua Localização



Localização do Russian River Valley.


            O Russian River Valley localiza-se no estado da Califórnia, na AVA (American Viticultural Área) Sonoma Coast, que por sua vez está inserida na ABA North Coast. Curiosidade: a AVA Russian River Valley engloba somente o trecho final do rio, porém não a sua foz, que deságua no Oceano Pacífico. Fica relativamente próxima à cidade de San Francisco.



Mapa detalhado: Russian River Valley.



Seu Clima e Solo

A região, devido à sua proximidade com o Pacífico, é bastante afetada pela sua maritimidade, no sentido em que o vale costuma ser coberto pela neblina gerada pelo oceano. As oscilações de temperatura são muito altas: chegam a variar 20º C, entre o dia e a noite. Durante o inverno, o curso do rio se alarga, provendo a irrigação dos vinhedos durante a estação seca até o final da primavera. Com a chegada do verão, o calor da estação é amenizado pela citada influência marítima, devido à neblina produzida na região, propiciando um longo período de amadurecimento das uvas.

Seu solo foi formado há milhões de anos pela colisão das placas tectônicas da América do Norte e do Pacífico e erupções vulcânicas, as quais depositaram cinzas sobre camadas de rochas erodidas, o que deu origem a um solo conhecido como Goldridge Soil. Perto da cidade de Sebastopol o solo possui uma composição mais argilosa, com menor retenção de água: a argila veio das montanhas de Sonoma, carregada pelo curso dos rios cujas nascentes localizam-se em tais montanhas. Há ainda um terceiro tipo de solo, de aluvião (depósito de sedimentos de areia, cascalho e/ou lama), próximo ao curso do rio.



Suas Sub-Regiões



Vinhedos da vinícola Paul Hobbs.


            Russian River Vallley, conforme já apresentado, é uma AVA, localizada na AVA Sonoma Coast, e esta, na AVA North Coast. Possui 02 sub-regiões, também classificadas como AVA:

            Chalk Hill: abrange o nordeste de Russian River Valley. Possui solo vulcânico de giz branco, próprio para o plantio de variedades brancas como Chardonnay e Sauvignon Blanc. A maior parte das vinícolas encontram-se próximas às encostas ocidentais das Montanhas Mayacamas;




Vinhedos da vinícola Hidden Ridge, próxima às Montanhas Mayacamas, Chalk Hill.


Green Valley of Russian River Valley: localizada ao sudoeste, é a sub-região mais próxima do Oceano Pacífico. Seu solo e clima são bastante propícios ao plantio de Pinot Noir, Chardonnay e Gewürztraminer. Recebeu essa nomenclatura em 2007, porém já era uma AVA desde 1983: seu nome anterior era Solano County Green Valley, o que causava confusão com a AVA Sonoma County Green Valley, daí a alteração do seu nome.




Vinícola Rubin, Green Valley of Russian River Valley. Note a neblina oriunda da proximidade com o Oceano Pacífico, ao fundo.



Suas Castas

            Ao considerarmos o clima e solo da região, entendemos o porquê de uvas com períodos longos de maturação adaptaram-se bem ao local. Além do plantio de Sauvignon Blanc e Gewürztraminer já citados, outras duas cepas brilham no Rússian River Valley.

            A cepa tinta Pinot Noir, originária da Borgonha, encontrou ótimas condições para o seu cultivo na região. Muitos especialistas consideram o varietal Pinot Noir produzido na região (sub-região Green Valley of Russian River Valley) um rival à altura dos grandes vinhos produzidos com esta cepa na sua terra de origem. Cepa com fama de difícil cultivo e produção de vinhos, dada a sua delicadeza e sensibilidade, aos poucos vêm perdendo tal fama com a utilização de novas técnicas e novos conhecimentos em seu manejo. Os varietais de Pinot Noir do Russian River Valley costumam passar por barricas de carvalho francês, geralmente de segundo uso, possuem coloração mais intensa do que os seus congêneres borgonheses e um pouco mais de corpo que estes. O cultivo da uva responde por 19% da produção de Pinot Noir da Califórnia.



Pinot Noir.



            A cepa branca Chardonnay, que tradicionalmente encontra sua melhor expressão em terroirs semelhantes aos preferidos pela Pinot Noir, também produz vinhos marcantes na região. Contudo, costumam diferir do padrão americano para a produção de varietais desta cepa: enquanto em muitas regiões são produzidos rótulos que passam por fermentação malolática e envelhecimento em barris de carvalho, o que os tornam bem encorpados, aqui costuma-se produzir rótulos mais ao estilo do restante do “Novo Mundo”: frescos, de alta acidez, frutados.




Chardonnay.


Também são plantadas, com relativo sucesso, as seguintes cepas na região: Syrah/Shiraz, Zinfandel, Cabernet Sauvignon, Cabernet Franc, Petite Syrah e Merlot (tintas) e Sauvignon Blanc (branca).



Seus Principais Produtores

            Seguem nomes de alguns dos mais renomados produtores do Russian River Valley:


  • Bogle;
  • Cartograph;
  • Christopher Creek;
  • DeLoach;
  • EnRoute;
  • Foppiano;
  • Francis Ford Coppola;
  • Gallo;
  • Gamba;
  • Iron Horse;
  • Kobler Estate;
  • La Crema;
  • Lauterbach;
  • MacMurray Ranch;
  • Martin Ray;
  • Martinelli;
  • Matrix;
  • Mueller;
  • Paul Hobbs;
  • Pellegrini;
  • Rubin;
  • Russian Hill;
  • Russian River;
  • Siduri;
  • Sonoma Cutrer;
  • St. Rose;
  • Thomas George.




Vinho Degustado: Bogle Pinot Noir 2011 (AVA Russian River Valley)





            A família Bogle é tradicional na região do Russian River Valley: desde o século XIX possuem plantações naquele local. A partir de 1968, Warren e Chris Bogle decidem plantar, após muitos estudos, 20 acres de uvas próximos a Clarksburg. Logo, a qualidade ímpar das uvas ali plantadas começaria a gerar frutos e reconhecimento nacional e internacional. Atualmente os vinhos encontram-se sob responsabilidade do diretor da vinícola Eric Aafedt e da winemaker Dana Stemmler. Sob sua batuta, o seu varietal Pinot Noir, objeto desta avaliação, foi merecedor de algumas distinções no concorrido mercado americano, tais como: Medalhas de ouro no Finger Lakes International Wine Competition 2013 e no Indy International Wine Competition 2013, de prata no California State Fair 2013 e de bronze no Orange Country Wine Society 2013 e no The Dallas Wine Competition 2013.

            Vinho adquirido na loja O Melhor Vinho do Mundo.

           

Análise Visual

            O vinho apresentou visual límpido, de média intensidade, borda rubi clara com núcleo rubi.


Análise Olfativa

            Os aromas apresentaram média intensidade. São secundários, remetendo a frutas maduras, tabaco, tostado e algo de folhas secas.


Análise Gustativa

            Seco, apresentou acidez média, equilibrada, taninos médios, corretos, média intensidade no sabor, que remete às folhas secas e ao tabaco, corpo médio e álcool muito bem integrado. Persistência alta.


Considerações Finais

            Muito equilibrado, corpo um pouco mais intenso do que o habitual dos varietais da cepa. Muito bem produzido, está em seu ápice. Acompanhamentos: aves grelhadas ou com molhos mais cremosos, risotos mais leves, queijos de massa mole e patês.


Pontuação: 91 FRP




Fontes:

Russian River Valley Winegrowers:


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