O Blog O Mundo e o Vinho é uma
criação do enófilo e “sommelier amador” Fábio Romão Prado (este que vos escreve).
Recentemente, o blogueiro e criador da página teve o orgulho de participar e
ser aprovado na primeira turma da renomada instituição norte-americana ISG –
International Sommelier Guild. E, como forma de manter os vínculos criados nas
aulas em momentos mais descontraídos e também aperfeiçoar os conhecimentos
obtidos, foi criada a Confraria ISG-SP, a qual se reunirá mensalmente para
apreciação e aprendizado sobre regiões vinícolas e seus rótulos mais
emblemáticos.
O primeiro encontro da Confraria
ocorreu na data 20/01/2016 ,
onde o tema eleito pelo grupo foi a cepa branca Alvarinho. Vamos discorrer um
pouco sobre a mesma neste post e, em seguida, falaremos sobre os rótulos
degustados.
A Alvarinho
Originária da Galícia e do norte de
Portugal, a cepa branca Alvarinho é a uva por trás dos grandes “vinhos verdes”
portugueses. É uma casta de vigor moderado, e apresenta alto índice de
fertilidade. Dá-se melhor em terrenos secos, e apresenta brotação e maturação
bastante precoces. Muito suscetível às pragas fúngicas do oídio e do míldio
(peronóspora).É plantada em diversas regiões no mundo, porém encontra sua
melhor expressão nas regiões lusitanas de Monção e Melgaço.
Alvarinho.
Tratam-se de vilas
com mais de 700 anos de existências, originadas no entorno dos castelos de
Monção e Melgaço, respectivamente, construídos como foco de resistência
portuguesa ante a retaliações dos reinos de Castela e Aragão, quando da
independência do Condado Portucalense. O verdadeiro Alvarinho é originário de
Monção: seu microclima é aquele que consegue extrair o melhor resultado das
vinhas. No entanto, seja pelo investimento em enoturismo, seja pela crescente
qualidade dos seus produtos, Melgaço também tornou-se produtora de excepcionais
rótulos varietais da cepa.
Castelo de Monção.
O primeiro vinho varietal de
Alvarinho produzido foi o Casa de Rodas, no
início dos anos 1920; já a Vinhos de Monção, a primeira empresa especializada
nesta uva, com a marca Cepa Velha.
Esta produtora, em conjunto com a Adega Cooperativa de Monção e a Palácio da
Brejoeira, investiram no perfil da uva, obtendo resultados excepcionais.
Há uma festividade própria para a
uva em Portugal, a Festa do Alvarinho e
do Fumeiro, realizada em Abril desde 1994 e visa promover os produtos
locais, como o presunto, o chouriço, a broa e o mel, além, claro, dos vinhos.
Cartaz da Festa do
Alvarinho e do Fumeiro 2016.
Na Espanha, a Albariño – seu nome
hispânico – atinge altos níveis de qualidade na DO Rias Baixas, na Galícia,
próximo à Cambados, Condado do Tea e em Barbanza e Iria. Até 1985, a Albariño era
comumente parte de blends produzidos
na Galícia, dificilmente sendo a cepa predominante, o que começou a mudar a
partir deste ano, com a criação da DO Rias Baixas.
DO Rias Baixas, Espanha.
Além da península Ibérica, também a
região norte-americana da Califórnia tem explorado a uva, em especial nas
sub-regiões – AVAs - de Santa Ynez Valley, Clarksburg e Los Carneros. A cepa
também despertou o interesse de vinicultores australianos: muitos produziram
diversos rótulos estampados “Albariño” quando, em 2008, após a visita de um
especialista francês à Austrália, foram constatados após testes de DNA que as
uvas plantadas no país eram, na verdade, a cepa branca “francesa” Savagnin.
Quase todos os vinhos australianos rotulados como “Albariño” são, na verdade,
varietais de Savagnin!
Vinho Degustado: Anselmo Mendes – Muros Antigos Alvarinho 2014:
Localizada
na região de Monção, a adega surgiu em 1998 e sempre teve o seu perfil voltado
à Alvarinho. Foi fundada por Anselmo Mendes, renomado enólogo português, que
produz vinhos em outras regiões de Portugal, e estendeu seus trabalhos também à
Argentina e ao Brasil.
Análise Visual:
Visual límpido, de baixa intensidade, apresentando borda incolor e núcleo
amarelo palha;
Análise Olfativa:
Aroma de alta intensidade, primário, remetendo a frutas cítricas maduras, maracujá
e algo floral;
Análise Gustativa:
Seco, de alta acidez e intensidade, apresenta sabores cítricos e de maracujá. O
corpo é médio, bem como o seu álcool. Persistência média.
Considerações Finais:
Frutado, ácido e leve. Boa companhia para bacalhau e peixes fluviais, bem como
petiscos à base de frutos do mar.
Pontuação: 88 FRP
Vinho Degustado: Quinta de Gomariz Alvarinho 2013:
A
Quinta de Gomariz localiza-se no coração da região dos Vinhos Verdes, e
utiliza-se de modernas técnicas para extrair o máximo potencial da Alvarinho. Propriedade
do renomado produtor regional Manuel Sá.
Análise Visual:
O seu visual é límpido, de muito baixa intensidade, apresentando borda incolor
e núcleo amarelo palha com reflexos dourados;
Análise Olfativa:
Aroma de média intensidade, primário, remetendo a maracujá, abacaxi e um belo
toque herbáceo;
Análise Gustativa:
Seco, de média intensidade e acidez no palato, apresenta sabor ligeiramente
cremoso e algo de grama cortada. Corpo e álcool médios, persistência média para
baixa.
Considerações Finais:
Gastronômico, ao mesmo tempo herbal e cremoso, interessante. Sugestão de
harmonização: ceviche e massas com frutos do mar.
Pontuação: 90 FRP
Vinho Degustado: Palácio de
Fefiñanes Albariño 2013:
Talvez
o maior nome do Albariño espanhol, Fefiñanes surgiu em 1904, engarrafando seu
Albariño de Fefiñanes pela primeira vez em 1928. Produzido na DO Rias Baixas, a
sede é uma bela construção do século XVI, localizada em Cambados. A produção
está sob responsabilidade da conceituada enóloga Cristina Mantilla.
Análise Visual:
Visual límpido, de baixa intensidade, borda incolor e núcleo amarelo palha com
reflexos esverdeados;
Análise Olfativa:
Aroma de alta intensidade, primário, remetendo a bala toffee, notas defumadas e
de limão;
Análise Gustativa:
Seco, de alta acidez e média intensidade, apresenta sabor deliciosamente
defumado, toques cítricos e minerais. Corpo de média intensidade, álcool de
baixa intensidade. Boa persistência.
Considerações Finais:
Elegante, muito bem produzido, mineralidade interessante. Diretrizes
enogastronômicas: arroz, massas e aperitivos à base de frutos do mar.
Pontuação: 92 FRP
Vinho Degustado: Palácio da Brejoeira Alvarinho 2013:
Um
dos grandes ícones do mundo do vinho, o Palácio da Brejoeira foi mandado erigir
em 1806 por Luis Pereira Velho de Moscoso, ficando pronto 28 anos mais tarde,
ao sul da região de Monção. Declarado monumento nacional em 1910, foi vendido
vinte anos depois para a família da atual acionista majoritária Hermínia de
Oliveira Paes. A partir de então, inicia-se a produção e comercialização de seu
afamado vinho. Sua sede é, sem dúvida, um dos monumentos mais belos da
arquitetura portuguesa. Possui uma galeria de artes renomada.
Este comentário foi removido pelo autor.
ResponderExcluirInteressante, não tinha ouvido falar desta uva ainda.
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