Documento oficial com
a “nomeação” dos principais Chateaux de Bordeaux às categorias criadas com a
Classificação de 1855.
Ler um rótulo de uma garrafa de
vinho nem sempre é uma tarefa simples. Nomes, números, cepas... Para o leigo ou
mesmo aquele habituado a ocasionalmente abrir um vinho, provavelmente é mais
fácil a leitura das informações de uma garrafa oriunda de um dos países do
“Novo Mundo” (por exemplo, Chile ou EUA): os produtores, muitas vezes desejosos
por atingir um grande público, tentam deixar o mais acessível possível a forma
de entendimento das informações.
Com os países do chamado “Velho
Mundo” (França, Itália, Espanha, por exemplo) vêm o desafio. Há, é verdade, um
bom número de produtores, em geral os mais novos, que vêm adotando as práticas
de rotulagem utilizadas por chilenos, estadunidenses, argentinos, etc. No
entanto, os grandes vinhos europeus (e mesmo alguns do Novo Mundo) possuem
informações por vezes muito “técnicas”: o distrito ou comuna específicos onde
são produzidos (por vezes até mesmo um vinhedo), o método de produção, termos
que designam o assemblage e...
classificações recebidas na sua região de origem. Com relação a esta última
informação, é notória a preocupação na França quanto à distinção qualitativa
dos produtores considerando uma nomeação recebida em reconhecimento à qualidade
do seu produto. E, sem dúvida, uma das classificações mais conhecidas (talvez a
mais conhecida) de vinhos seja a de Bordeaux, originada em 1855.
Ordens do Imperador
Rótulo do “vinho principal” do Château Cheval Blanc, safra 2008.
Em 1851, o príncipe inglês Albert,
marido da rainha Vitória, organizara em Londres a primeira Exposição Universal
(ou Mundial), evento que reuniria diversos países industrializados a fim de
promover o comércio e apresentação do que era produzido nestes lugares. Até os
dias atuais, o evento é realizado, sem um intervalo “padrão” para seu
acontecimento. A próxima Exposição Universal ocorrerá em Astana, no
Cazaquistão, em 2017.
O evento foi um grande sucesso, e
Paris havia sido escolhida como a sede da próxima Exposição. Este foi um motivo
de grande orgulho do imperador francês Napoleão III, que então buscava assumir,
no continente europeu, uma posição de protagonismo. Entre a pauta de produtos
que seriam expostos pela França constava, sem dúvida, o vinho. E, à época, o
vinho mais prestigioso na França sem dúvida era aquele produzido em Bordeaux,
que, portanto, deveria ser o “carro-chefe” do país na Exposição. No entanto,
ciente de que, por mais que os produtores bordaleses mantivessem um bom nível
qualitativo de produção, haviam vinícolas (chateaux)
de maior reputação e detentoras de produtos de maior qualidade e, portanto, de
preços mais altos em relação a outros, Napoleão III solicitou que fosse criado
um sistema de classificação levando em consideração tais aspectos (reputação e
preço de mercado, em especial).
O sistema foi criado em 1855, a tempo do
prestigioso evento, e hierarquizou da seguinte forma os vinhos produzidos em
Bordeaux:
- Premiers Grands Crus - Haut-Brion • Lafite Rothschild • Latour • Margaux • Mouton Rothschild (1973);
- Deuxièmes Grands Crus - Baron Pichon-Longueville • Brane-Cantenac • Cos d'Estournel • Ducru-Beaucaillou • Durfort-Vivens • Gruaud-Larose • Lascombes • Léoville Barton • Léoville Las Cases • Léoville Poyferré • Montrose • Pichon Longueville Comtesse de Lalande • Rauzan-Gassies • Rauzan-Ségla
- Troisièmes Grands Crus - Boyd-Cantenac • Calon-Ségur • Cantenac-Brown • Desmirail • Ferrière • Giscours • Issan • Kirwan • La Lagune • Lagrange • Langoa Barton • Malescot St. Exupéry • Marquis d'Alesme Becker • Palmer
- Quatrièmes Grands Crus - Beychevelle • Branaire-Ducru • Lafon-Rochet • Duhart-Milon-Rothschild • Marquis de Terme • Pouget • Prieuré-Lichine • Saint-Pierre • Talbot • La Tour Carnet
- Cinquièmes Grands Crus - d'Armailhac • Batailley • Belgrave • de Camensac • Cantemerle (1856) • Clerc-Milon • Cos Labory • Croizet Bages • Dauzac • Grand-Puy-Ducasse • Grand-Puy-Lacoste • Haut-Bages Libéral • Haut-Batailley • Lynch-Bages Lynch-Moussas • Pédesclaux • Pontet-Canet • du Tertre
A classificação acima levou em
consideração a reputação e preço atingidos pelos vinhos tintos produzidos nos chateaux. Porém, também foi criada uma
classificação para outro produto reputado de Bordeaux: seus vinhos brancos
doces, produzidos nas sub-regiões de Sauternes e Barsac. Segue a classificação,
conforme abaixo:
- Cru Supérieur: Yquem
- Premiers Crus: Climens • Coutet • Guiraud • La Tour-Blanche • Haut-Peyraguey • Lafaurie-Peyraguey • Rabaud-Promis • Rayne-Vigneau • Rieussec • Sigalas-Rabaud • Suduiraut
- Deuxièmes Crus: d'Arche • Broustet • Caillou Doisy Daëne • Doisy-Dubroca • Doisy-Védrines • Filhot • Lamothe • de Malle • Myrat • Nairac • Romer • Romer du Hayot • Suau
Château
d’Yquem.
As classificações
têm se mantido inalteradas desde então, exceção feita ao Château Mouton
Rothschild, promovido de Deuxième Grand
Cru para Premier Grand Cru em
1973. Naturalmente, desde então houve diversas manifestações de produtores,
seja por seus produtos terem adquirido, com o passar do tempo, reputação e
preços superiores à categoria inicialmente enquadrados; seja por sua ausência
da classificação realizada; seja por sua região ter sido ignorada (exceção
feita ao Premier Grand Cru Château
Haut-Brion, do distrito de Graves, os demais vinhos são produzidos nos
distritos de Médoc e Sauternes-Barsac). Desde então, surgiram classificações
“paralelas”, como a de 1932, quando foram criados os Crus Bourgeois (“Crus” burgueses, uma resposta aos “Crus” supostamente
aristocráticos de 1855) ou a de 1955, de Saint-Émilion.
Château
Pétrus, safras 1982 e 1990. Este produtor encontra-se localizado na comuna do
Pomerol, em Bordeaux. Seus vinhos possuem prestígio e preços muitas vezes
superiores aos “Premiers Grand Crus” da Classificação de 1855. A safra 1982 deste
vinho atingiu preços estratosféricos em leilões recentes.
O sistema criado em
1855 foi benéfico para a região. Estimulou a organização de todos os
produtores: para os dela pertencentes, a necessidade de manter um elevado nível
de qualidade, que faça jus ao nome eleito para a ela pertencer; e para os que
não constam da classificação, a motivação para se organizarem, mesmo que de
forma paralela, e produzirem rótulos dignos da reputação e qualidade existentes
nos vizinhos “aristocráticos”.
Os
vinhos “Premier Grand Cru” de Bordeaux: da esquerda para a direita, Château
Mouton-Rothschild, Château Latour, Château Haut-Brion, Château Margaux e
Château Lafite Rothschild.
Bom texto Fábio, parabéns.
ResponderExcluirObrigado, Cíntia!
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