terça-feira, 7 de junho de 2016

Produtores: Czarnobay


Produtores: Czarnobay


            A história do vinho no Brasil, embora tenha suas raízes desde à época do descobrimento, no século XVI, é recente em termos de “riqueza”. Mais precisamente, com a massiva vinda de imigrantes italianos na segunda metade do século XIX para os estados do Sul. O “boom” verificado nas últimas décadas foi semeado naqueles anos, e hoje há grandes nomes consolidados em nosso mercado, reputados até mesmo no exterior: Cave Geisse, Miolo, Casa Valduga, Pizzato, Aurora...


            O sucesso destas vinícolas encorajou muitos a estudarem e se especializarem em Enologia, e os enólogos já experientes viram a oportunidade de “tocarem” seus projetos pessoais. A grosso modo, uma versão para o também recente “boom” das “cervejas artesanais” vivido no Brasil até hoje. E, entre estes novos pequenos produtores, vale conhecertmos uma bodega incrustada em pleno “domínio italiano” no Sul, cujo fundador possui descendência eslava, mas com o vinho nas veias tanto quanto aqueles: a Bodega Czarnobay.

  

O Produtor


Sede da Bodega Czarnobay.


            Falar da Czarnobay hoje é falar de Antônio Czarnobay, embora nem sempre tenha sido assim. De qualquer forma, falemos um pouco sobre Antônio.

Nascido no município gaúcho de Seberi, estado do Rio Grande do Sul, em 1952, Antônio Czarnobay já demonstrava, desde a juventude, interesse pela gastronomia, que o levaria também ao interesse pelo mundo vinícola. Ao se mudar para Porto Alegre para formar-se em Química e Microbiologia, nos idos dos anos 1970, Antônio consegue emprego na Cooperativa Aurora em 1975. A partir de então, aprofunda seu conhecimento em Enologia, sendo enviado pela empresa para estudar sobre a produção de vinho inclusive fora do Brasil. Especializou-se no assunto e participou e ministrou palestras e seminários.




Recepção da colheita na Cooperativa Aurora (Foto de 1970).



Após 34 anos de trabalho na Aurora, tornando-se um dos responsáveis pela evolução qualitativa do vinho nacional no período e adquirindo grande reputação desde então, Czarnobay deixa a Aurora em 2009. Neste ínterim, conhece André Copetti, advogado proprietário de terras na região de Encruzilhada do Sul, localizada na Serra do Sudeste, Rio Grande do Sul. Copetti e Czarnobay iniciam os estudos para produção de vinhos naquelas terras em 2003 e fundam a Bodega Copetti & Czarnobay. Até hoje, trata-se da única vinícola instalada na Serra do Sudeste, onde a maioria das vinícolas somente realizam a viticultura. A princípio, são delimitados cerca de 04 hectares para o plantio de cepas viníferas europeias, divididos da seguinte forma: Cabernet Sauvignon (2 ha), Merlot (1 ha) e Chardonnay (1,2 ha), conduzidos em espaldeira e uma densidade de 4 mil pés por hectare. Hoje também encontra-se dedicada parte do vinhedo para videiras de Touriga Nacional.




Vinhas de Touriga Nacional na Bodega Czarnobay.



Neste período, o talento e conhecimento de Czarnobay são reconhecidos internacionalmente: foi eleito para o cargo de vice-presidente da Union Internationale des OEnologues (UIOE) em 2004, pelo período de 1 ano. Foi o primeiro latino-americano a alcançar esta honraria.

Cerca de 6 anos depois, são lançados os primeiros rótulos: um espumante brut e o tinto varietal de Merlot, Alto das Figueiras (safra 2009), que logo começam a ganhar reconhecimento nacional (foi Medalha de Prata no VI Concurso Internacional de Vinhos do Brasil para Alto das Figueiras Merlot 2009). A sociedade seria encerrada em 2013, e a vinícola passa então a chamar-se somente Bodega Czarnobay, e seus rótulos vêm angariando premiações nacionais e internacionais, bem como vêm sendo diversificadas as cepas ali plantadas.




Legado

            Produtora de “vinhos de autor”, de quantidade reduzida e regularidade quanto à sua boa qualidade, a Czarnobay é uma das provas de que, mesmo sem investimentos vultosos, é possível produzir rótulos de excelente relação custo-benefício, dignos da obtenção de reconhecimentos internacionais. Para tal, pesa, é verdade, a experiência e conhecimento do enólogo Antônio Czarnobay: uma vida dedicada ao estudo e ao “trabalho” da Vitis Vinifera.





Vinhos Degustados



            O blog infelizmente não teve a chance de conhecer a Bodega Czarnobay. No entanto, teve a oportunidade de conhecer seus rótulos através de degustação realizada na Enoteca O Melhor Vinho do Mundo. O espaço, localizado em São Bernardo do Campo/SP, conta com uma boa variedade de rótulos do Novo e Velho Mundo e é palco de eventos e degustações realizadas na região. Possui um bistrô, com uma gastronomia voltada para a harmonização vinho + comida e com ótima relação custo/qualidade. Os proprietários do espaço, o casal Marcelo Rosa e Rosana Ferreira, já organizaram anteriormente eventos voltados ao mundo do vinho na região do ABC paulista, como a Expovinhos, e são incansáveis divulgadores da “causa” enogastronômica na região.





Aspectos da Enoteca O Melhor Vinho do Mundo, local da degustação dos rótulos da Bodega Czarnobay.





O proprietário da Enoteca O Melhor Vinho do Mundo, Marcelo Rosa, e este blogueiro.



            Organizadora da degustação, a sommelière Andressa Emídio Cera, que também atua como representante da Czarnobay em São Paulo/SP, apresentou os 03 produtos da vinícola. Atuante como publicitária e com formação em Química, Andressa descobriu os vinhos logo aos 18 anos, e desde 2013, vêm dedicando seus estudos a Enologia. Seu entusiasmo ao falar de vinhos é notável, o que ficou nítido na apresentação dos rótulos, a saber: o espumante Pedregais Brut (corte de Chardonnay, Cabernet Sauvignon e Merlot), o tinto Alto das Figueiras, varietal da cepa Merlot (safra 2012) e o lançamento Alto das Figueiras Touriga Nacional (safra 2013). Aos vinhos:





Pedregais Brut (Corte Chardonnay, Cabernet Sauvignon e Merlot)







Análise Visual:

De visual límpido e fina perlage e de baixa intensidade, sua coloração na borda é aquosa, com o núcleo palha com reflexos esverdeados;


Análise Olfativa:

Nariz de média intensidade, de caráter primário, com notas amanteigadas, fruta branca e centeio;


Análise Gustativa:

Seco e de ótima acidez, o sabor apresenta média intensidade, lembrando a fruta branca apresentada no nariz. Bom corpo e álcool discreto, persistência média na boca.


Considerações Finais:

Vivaz e elegante, muito correto e saboroso. Pronto para beber. Salada caprese e petiscos à base de carne branca são sugestões de acompanhamento.


Pontuação: 90 FRP






Alto das Figueiras Merlot 2012






Análise Visual:

Límpido ao olho, apresenta coloração de média-alta intensidade, com as bordas em tom rubi-claro e núcleo rubi-escuro;


Análise Olfativa:

Aromas apresentando média intensidade, de caráter primário, trazendo fruta compotada e café, em especial;


Análise Gustativa:

Seco, equilibrado tanto em acidez quanto em taninos (estes um pouco mais baixos em intensidade), sabor também de média intensidade, trazendo o frutado notado nos aromas bem como um toque defumado. Médio em intensidade de álcool e em seu corpo, é bem persistente na boca.


Considerações Finais:

Elegante e equilibrado, com boa fruta e estrutura. Pode ser bebido agora ou daqui a alguns anos. Carne de cordeiro, pratos bem temperados e massas ao molho vermelho.


Pontuação: 90 FRP







Alto das Figueiras Touriga Nacional 2013





Análise Visual:

Límpido, de coloração bastante intensa, borda rubi e núcleo de um rubi profundo e um discretíssimo halo alaranjado;


Análise Olfativa:

Aromas de média para alta intensidade, com características primárias, de especiarias e frutas negras, algo floral;


Análise Gustativa:

Seco, de acidez média para alto e taninos médios, o sabor é bem intenso, trazendo fruta compotada e algo de fumo. Encorpado e não muito alcoólico, apresenta persistência média.


Considerações Finais:

Com alguma evolução, é cheio na boca, ainda vivo e saboroso. Pode ser bebido agora ou dentro de alguns anos. Pratos típicos portugueses à base de carne, bem como aves assadas.


Pontuação: 91 FRP





Referências:

Revista Adega: As Uvas dos Terroirs do Brasil
Original: http://revistaadega.uol.com.br/artigo/uvas-dos-terroirs-do-brasil_9773.html#ixzz4AAtywdET

Revista Adega: 35 Anos de Desafios e Conquistas
Original: http://revistaadega.uol.com.br/artigo/35-anos-de-desafios-e-conquistas_3661.html#ixzz4AAw1PHBX



6 comentários:

  1. Gostei muito, com vc conheço o mundo dos vinhos de forma simples e ckara.
    Parabéns Fabio.

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  2. Obrigado por compartilhar a informação de mais um produtor brasileiro que eu não conhecia.

    Aliás, muito bom o seu blog!
    Tens mais um leitor assíduo.

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    1. Obrigado, Edward! Em breve, mais posts. Obrigado pela preferência! Santé!

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  3. Este comentário foi removido pelo autor.

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  4. Experiência que jamais esqueci ao degustar e adquirir o Merlot Alto das Figueiras 2012 em uma feira de vinhos em Porto Alegre. Inigualável!

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