Produtores: Czarnobay
A história do vinho no Brasil,
embora tenha suas raízes desde à época do descobrimento, no século XVI, é
recente em termos de “riqueza”. Mais precisamente, com a massiva vinda de
imigrantes italianos na segunda metade do século XIX para os estados do Sul. O
“boom” verificado nas últimas décadas foi semeado naqueles anos, e hoje há
grandes nomes consolidados em nosso mercado, reputados até mesmo no exterior:
Cave Geisse, Miolo, Casa Valduga, Pizzato, Aurora...
O sucesso destas vinícolas encorajou
muitos a estudarem e se especializarem em Enologia, e os enólogos já
experientes viram a oportunidade de “tocarem” seus projetos pessoais. A grosso
modo, uma versão para o também recente “boom” das “cervejas artesanais” vivido
no Brasil até hoje. E, entre estes novos pequenos produtores, vale conhecertmos
uma bodega incrustada em pleno “domínio italiano” no Sul, cujo fundador possui
descendência eslava, mas com o vinho nas veias tanto quanto aqueles: a Bodega
Czarnobay.
O Produtor
Sede
da Bodega Czarnobay.
Falar da Czarnobay hoje é falar de
Antônio Czarnobay, embora nem sempre tenha sido assim. De qualquer forma,
falemos um pouco sobre Antônio.
Nascido no município gaúcho de Seberi, estado do Rio Grande
do Sul, em 1952, Antônio Czarnobay já demonstrava, desde a juventude, interesse
pela gastronomia, que o levaria também ao interesse pelo mundo vinícola. Ao se
mudar para Porto Alegre para formar-se em Química e Microbiologia, nos idos dos
anos 1970, Antônio consegue emprego na Cooperativa Aurora em 1975. A partir de então,
aprofunda seu conhecimento em Enologia, sendo enviado pela empresa para estudar
sobre a produção de vinho inclusive fora do Brasil. Especializou-se no assunto e participou e ministrou palestras e
seminários.
Recepção da colheita na Cooperativa
Aurora (Foto de 1970).
Após 34 anos de trabalho na Aurora, tornando-se um dos
responsáveis pela evolução qualitativa do vinho nacional no período e
adquirindo grande reputação desde então, Czarnobay deixa a Aurora em 2009.
Neste ínterim, conhece André Copetti, advogado proprietário de terras na região
de Encruzilhada do Sul, localizada na Serra do Sudeste, Rio Grande do Sul.
Copetti e Czarnobay iniciam os estudos para produção de vinhos naquelas terras
em 2003 e fundam a Bodega Copetti & Czarnobay. Até hoje, trata-se da única
vinícola instalada na Serra do Sudeste, onde a maioria das vinícolas somente
realizam a viticultura. A princípio, são delimitados cerca de 04 hectares para o
plantio de cepas viníferas europeias, divididos da seguinte forma: Cabernet
Sauvignon (2 ha ),
Merlot (1 ha )
e Chardonnay (1,2 ha ),
conduzidos em espaldeira e uma densidade de 4 mil pés por hectare. Hoje também
encontra-se dedicada parte do vinhedo para videiras de Touriga Nacional.
Vinhas de Touriga Nacional na Bodega Czarnobay.
Neste período, o talento e conhecimento de Czarnobay são
reconhecidos internacionalmente: foi eleito para o cargo de vice-presidente da
Union Internationale des OEnologues (UIOE) em 2004, pelo período de 1 ano. Foi
o primeiro latino-americano a alcançar esta honraria.
Cerca de 6 anos depois, são lançados os primeiros rótulos:
um espumante brut e o tinto varietal
de Merlot, Alto das Figueiras (safra 2009), que logo começam a ganhar
reconhecimento nacional (foi Medalha de Prata no VI Concurso Internacional de
Vinhos do Brasil para Alto das Figueiras Merlot 2009). A sociedade seria
encerrada em 2013, e a vinícola passa então a chamar-se somente Bodega
Czarnobay, e seus rótulos vêm angariando premiações nacionais e internacionais,
bem como vêm sendo diversificadas as cepas ali plantadas.
Legado
Produtora de “vinhos de autor”, de
quantidade reduzida e regularidade quanto à sua boa qualidade, a Czarnobay é
uma das provas de que, mesmo sem investimentos vultosos, é possível produzir
rótulos de excelente relação custo-benefício, dignos da obtenção de
reconhecimentos internacionais. Para tal, pesa, é verdade, a experiência e
conhecimento do enólogo Antônio Czarnobay: uma vida dedicada ao estudo e ao
“trabalho” da Vitis Vinifera.
Vinhos Degustados
O blog infelizmente não teve a chance de conhecer a Bodega Czarnobay. No entanto, teve a oportunidade de
conhecer seus rótulos através de degustação realizada na Enoteca O Melhor Vinho do Mundo. O espaço, localizado em São
Bernardo do Campo/SP, conta com uma boa variedade de rótulos do Novo e Velho
Mundo e é palco de eventos e degustações realizadas na região. Possui um
bistrô, com uma gastronomia voltada para a harmonização vinho + comida e com
ótima relação custo/qualidade. Os proprietários do espaço, o casal Marcelo Rosa e Rosana Ferreira, já organizaram anteriormente eventos voltados ao
mundo do vinho na região do ABC paulista, como a Expovinhos, e são incansáveis
divulgadores da “causa” enogastronômica na região.
Aspectos da Enoteca O Melhor Vinho
do Mundo, local da degustação dos rótulos da Bodega Czarnobay.
O proprietário da Enoteca O Melhor
Vinho do Mundo, Marcelo Rosa, e este blogueiro.
Organizadora da degustação, a
sommelière Andressa Emídio Cera, que
também atua como representante da Czarnobay em São Paulo/SP, apresentou os 03
produtos da vinícola. Atuante como publicitária e com formação em Química,
Andressa descobriu os vinhos logo aos 18 anos, e desde 2013, vêm dedicando seus
estudos a Enologia. Seu entusiasmo ao falar de vinhos é notável, o que ficou nítido
na apresentação dos rótulos, a saber: o espumante Pedregais Brut (corte de
Chardonnay, Cabernet Sauvignon e Merlot), o
tinto Alto das Figueiras, varietal da cepa Merlot (safra 2012) e o lançamento
Alto das Figueiras Touriga Nacional (safra 2013). Aos vinhos:
Pedregais Brut (Corte Chardonnay, Cabernet Sauvignon e Merlot)
Análise Visual:
De
visual límpido e fina perlage e de baixa intensidade, sua coloração na borda é
aquosa, com o núcleo palha com reflexos esverdeados;
Nariz
de média intensidade, de caráter primário, com notas amanteigadas, fruta branca
e centeio;
Análise Gustativa:
Seco
e de ótima acidez, o sabor apresenta média intensidade, lembrando a fruta
branca apresentada no nariz. Bom corpo e álcool discreto, persistência média na
boca.
Considerações Finais:
Vivaz
e elegante, muito correto e saboroso. Pronto para beber. Salada caprese e
petiscos à base de carne branca são sugestões de acompanhamento.
Pontuação: 90 FRP
Alto das Figueiras Merlot 2012
Análise Visual:
Límpido
ao olho, apresenta coloração de média-alta intensidade, com as bordas em tom
rubi-claro e núcleo rubi-escuro;
Análise Olfativa:
Aromas
apresentando média intensidade, de caráter primário, trazendo fruta compotada e
café, em especial;
Análise Gustativa:
Seco,
equilibrado tanto em acidez quanto em taninos (estes um pouco mais baixos em
intensidade), sabor também de média intensidade, trazendo o frutado notado nos
aromas bem como um toque defumado. Médio em intensidade de álcool e em seu
corpo, é bem persistente na boca.
Considerações Finais:
Elegante
e equilibrado, com boa fruta e estrutura. Pode ser bebido agora ou daqui a
alguns anos. Carne de cordeiro, pratos bem temperados e massas ao molho
vermelho.
Pontuação: 90 FRP
Alto das Figueiras Touriga Nacional
2013
Análise Visual:
Límpido,
de coloração bastante intensa, borda rubi e núcleo de um rubi profundo e um
discretíssimo halo alaranjado;
Análise Olfativa:
Aromas
de média para alta intensidade, com características primárias, de especiarias e
frutas negras, algo floral;
Análise Gustativa:
Seco,
de acidez média para alto e taninos médios, o sabor é bem intenso, trazendo
fruta compotada e algo de fumo. Encorpado e não muito alcoólico, apresenta
persistência média.
Considerações Finais:
Com
alguma evolução, é cheio na boca, ainda vivo e saboroso. Pode ser bebido agora
ou dentro de alguns anos. Pratos típicos portugueses à base de carne, bem como
aves assadas.
Pontuação: 91 FRP
Referências:
Revista Adega:
As Uvas dos Terroirs do Brasil
Original: http://revistaadega.uol.com.br/artigo/uvas-dos-terroirs-do-brasil_9773.html#ixzz4AAtywdET
Revista Adega:
35 Anos de Desafios e Conquistas
Original: http://revistaadega.uol.com.br/artigo/35-anos-de-desafios-e-conquistas_3661.html#ixzz4AAw1PHBX