Krug.
Margaux. Romanée-Conti. Nomes que, naturalmente, evocam três dos mais poderosos
e míticos vinhos produzidos no mundo e, concidentemente ou não, na França.
Oriundos, respectivamente, de Champagne, Bordeaux e Borgonha, são
representantes dignos e merecidos de suas regiões. Porém, de algumas décadas
para cá, um novo nome vêm se afirmando em uma região também tradicional
produtora de excelentes rótulos e, com muita dedicação e merecimento, em breve
deve figurar no panteão dos lendários produtores. Seu nome: Guigal. Do Vale do
Rhône, região já apresentada por este blog (o que você pode conferir aqui).
Etienne
Guigal.
Uma
história iniciada em 1910, com o nascimento de Etienne Guigal, membro de uma
família de origem pobre do sul da França. Com o falecimento de seu pai em 1924,
Etienne teve de começar a trabalhar. Arranjou um emprego na então poderosa
vinícola Vidal Fleury. Foi neste período, em que após 15 anos dentro da empresa
tornou-se “Maître de Chai” (uma espécie de supervisor do processo produtivo de
uma vinícola: um dos cargos mais importantes possíveis), que Etienne viria a
conhecer Marcelle. Esta trabalhava para uma família da nobreza francesa, no Château d'Ampuis. Casaram-se e, em 1946, Etienne
fundou sua própria vinícola, a E. Guigal, em Ampuis, no coração da sub-região
de Côte-Rôtie.
Domaine
Vidal Fleury, nos dias atuais.
O
Château d'Ampuis.
No entanto, em 1961,
Etienne ficara completamente cego, o que obrigou o seu filho Marcel, de 18
anos, a assumir o controle da vinícola. Porém, mesmo tão jovem, e sob as
orientações de seu pai, Marcel logo mostraria a que veio. Cinco anos depois, a
E. Guigal lançou o La Mouline ,
seu primeiro vinho clássico, um corte majoritariamente de Syrah e pequeno
percentual de Viognier. Trata-se de um vinho de produção muito limitada,
geralmente a 450 caixas. As cepas (oriundas de vinhas muito antigas) são
vinificadas em separado, e amadurecem por cerca de 40 meses em barricas de
carvalho novas.
Alguns anos depois, Marcel deixaria
a Viognier de lado na produção de outro futuro ícone, o La Landonne , um varietal
100% Syrah. As vinhas são mais jovens do que as de La Mouline , e o solo é o
ideal para o cultivo da cepa. Por ocupar uma área maior, a produção do La Landonne é estimada em
torno de 1000 caixas.
Até este momento (meados dos anos
1970), a E. Guigal era uma vinícola consolidada, mas ainda a ter descoberto o
potencial de seus vinhos, o que ocorreu quando o renomado crítico americano
Robert Parker teve a oportunidade de degustar e avaliar seus vinhos (incluindo
os carros-chefe supracitados). Os vinhos de Guigal são, em geral, frutados,
oleosos e muito longevos – características muito apreciadas por Parker – e o
veredicto dado pelo crítico foi de que aqueles vinhos eram os melhores que até
então ele havia provado. Parker concedeu, portanto, notas altíssimas aos
rótulos de Guigal, e graças a estes, a Côte-Rôtie passou, a partir de então, a
rivalizar em pé de igualdade com as já afamadas denominações Hermitage e
Chateauneuf-du-Pape.
Diante do repentino sucesso de
crítica (Landonne e Mouline obtiveram seguidas notas 100 RP nas safras
subseqüentes à primeira crítica), Marcel adquiriu, em 1984, o Domaine Vidal
Fleury, onde Etienne havia iniciado sua carreira como vinicultor. No ano
seguinte, Marcel lançaria seu terceiro icônico vinho, La Turque : de um minúsculo
vinhedo, com cerca de 30 anos de idade, surge um corte de 93% Syrah e 7%
Viognier, do qual são produzidas anualmente somente 400 caixas.
Em 1989, morrem Etienne Guigal e sua
esposa, Marcelle. Porém, em 1995, o filho de Marcel, Philippe, torna-se o
enólogo da vinícola. Em paralelo, Marcel adquire o Château d'Ampuis, onde sua mãe trabalhara quando conheceu Etienne. Desde
então, a expansão dos domínios de Guigal pelo Vale do Rhône não parou: hoje
possuem vinhedos em quase todas as sub-regiões, inclusive nas afamadas
Hermitage e Chateauneuf-du-Pape, enquanto seus tradicionais vinhos continuam
alcançando notas altíssimas da crítica especializada – e, consequentemente,
preços também altíssimos.
Marcel e Philippe
Guigal.
Krug. Margaux. Romanée-Conti. Guigal.
Gostei da história desta família e fiquei bem curiosa em provar estes vinhos.
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