domingo, 3 de setembro de 2017

São Paulo



Vinhedos da Guaspari. - Espírito Santo do Pinhal.


Uma das premissas do Blog O Mundo e o Vinho é promover o conhecimento ao internauta a respeito das mais diversas regiões vinícolas do planeta: consagradas, desconhecidas e emergentes. Sobre estas últimas, a sua "descoberta" é algo estimulante: as técnicas se aperfeiçoam, o conhecimento sobre o terroir até então improvável para o cultivo de Vitis Vinifera se amplia e permite sua exploração e ousados projetos provam a viabilidade da produção de vinhos em locais até então impensáveis.
O Brasil é pródigo em exemplos desta natureza: quem, algum dia, imaginaria que o Vale do São Francisco, em meio ao árido nordestino, daria significativos (e premiados) resultados? Mas, mais ao sul, lenta e progressivamente, outra região tupiniquim vêm apresentando consistentes resultados e provando que, caso haja real interesse em transformar nosso país em uma potência vinícola, temos todos os fatores necessários para tal: estamos falando do Estado de São Paulo.



Sua História


"Descoberto" em 1500 pelos portugueses - com a chegada da esquadra lusitana na região da atual Porto Seguro, na Bahia - o Brasil teve inicialmente sua colonização baseada no sistema de capitanias hereditárias - pedaços de seu território, então delimitado pelo Tratado de Tordesilhas firmado junto à Espanha - sua maior rival no período das Grandes Descobertas - , foram designados a dignitários portugueses, primeiramente somente visando a extração da madeira do pau-brasil, depois realmente explorando o potencial de suas parcelas, bem como promovendo a efetiva posse e defesa do território recém-descoberto. Uma das capitanias mais importantes era a de São Vicente: em 1532, em seu território, era fundado o núcleo da primeira cidade brasileira, homônima ao nome da capitania. Vinte e dois anos depois, seria fundada, no planalto de Piratininga, a futura capital do futuro estado, a qual assim tornar-se-ia a partir de 1683.




Fundação de São Vicente (Quadro de Benedito Calixto).



À época da criação da capitania, foram trazidas mudas de videira oriundas de Portugal, as quais foram cultivadas por Brás Cubas - fundador da cidade de Santos - tanto em São Vicente quanto no atual bairro do Tatuapé. Séculos depois, a produção ainda persistia, e conta-se que o então imperador Dom Pedro II teria aprovado os vinhos ali confeccionados. No entanto, tentativas de produção de vinho utilizando a Vitis Vinifera foram esparsas e sem muito sucesso, situação que perdurou por muitos anos. Ainda assim, o vinho tornou-se o segundo produto comercializado no Brasil Colônia, cuja primazia coube ao comércio de trigo. Outro fator complicador para a produção de vinho era a alta taxação a que era submetido pela Coroa portuguesa, situação mantida quando do Brasil Espanhol (1580-1640).

São Paulo conheceria, a partir do século XVII, o movimento do bandeirismo de apresamento: grupos de mercenários, conhecidos como bandeirantes (os quais conduziam suas "bandeiras") começariam a singrar o interior do país, ultrapassando as temporariamente inexistentes limitações impostas pelo Tratado de Tordesilhas visando a captura de índios para o trabalho escravo, atividade esta que logo entraria em declínio com o tráfico negreiro. Um dos mais conhecidos bandeirantes, Pedro Vaz de Barros, funda nesta época a vila de São Roque, futuro pólo ligado à produção de vinhos de mesa no estado. Em algumas décadas, no entanto, tornaria-se predominante o bandeirismo minerador, onde as bandeiras adentravam o interior em busca de metais preciosos, em especial ouro. As descobertas realizadas na região do atual Mato Grosso e, em especial, no atual estado de Minas Gerais, provocaram o esvaziamento dos principais núcleos de São Paulo: em busca do enriquecimento imediato, muitos abandonaram a região, o que ocasionou o declínio de diversas atividades, levando a população ainda remanescente à pobreza.




O Bandeirante Domingos Jorge Velho (Quadro de Benedito Calixto).


O século XVIII assistiu ao esfacelamento da capitania de São Paulo, com a perda de seu território de forma gradual até a anexação à capitania do Rio de Janeiro, situação revertida em 1765 por Morgado de Mateus. Assim, São Paulo passaria, a partir de então, a obter sua subsistência através do cultivo da cana-de-açúcar. A restaurada capitania englobava também partes dos atuais estados do Paraná e Santa  Catarina: diversas vilas foram fundadas, dando origem a diversos futuros núcleos populacionais, como Campo Mourão, Lages, Campinas e Piracicaba. No século seguinte, o estado viria a ter importante papel histórico: no dia 07 de Setembro de 1822, às margens do riacho do Ipiranga, Dom Pedro declararia a independência do Brasil. Uma das figuras decisivas do processo foi o santista José Bonifácio. Cerca de três décadas depois, em 1853, a então província São Paulo sofreria sua última perda territorial, com a criação do Paraná. O estado definiria sua atual forma somente em 1930.




Engenho de Cana-de-Açúcar em São Paulo (Gravura de Johann Moritz Rugendas).



Em 1817 seria fundada a primeira fazenda produtora de café, em São Paulo, no vale do rio Paraíba do Sul. Após a independência, esta região tornar-se-ia o primeiro grande pólo produtor da planta no Brasil e desencadeando o enriquecimento de cidades como Guaratinguetá, Taubaté, Bananal, Lorena e Pindamonhangaba. O restante do estado persistiria com o cultivo da cana-de-açúcar e o comércio em geral. Esta situação persistiria até o começo da segunda metade do século XIX, quando o empobrecimento do solo desta região e as dificuldades impostas aos escravocratas obrigou o café a se mudar para o oeste paulista: graças a um dos solos mais férteis do mundo (a "terra roxa"), o café imperou no interior do estado, promovendo o desenvolvimento do restante do estado, onde surgiram ou se desenvolveram importantes núcleos como Presidente Prudente, Bauru, Ribeirão Preto, Sorocaba, entre outros. Ferrovias passaram a cortar o estado, ligando os centros produtores ao porto de Santos, que tornara-se o mais importante do país. O Vale do Ribeira, no sul do estado, no entanto, não possuía solos apropriados para o cultivo do café, motivo pelo qual esta região tornou-se e ainda é a mais pobre do estado.




Colheita de café - Século XIX.



Sem a mão-de-obra escrava e demandando cada vez mais pessoas, a cultura cafeeira atrairia a vinda de imigrantes de diversas nacionalidades para o estado. Italianos, portugueses, espanhóis, árabes e japoneses passariam a trabalhar nas lavouras do estado, porém boa parte dessa massa imigratória se estabeleceu na capital São Paulo, pois apesar de a oferta de oportunidades ser alta, a demanda era ainda maior. Nesta época registra-se a instalação de diversos imigrantes italianos e portugueses na região de São Roque, os quais trariam as tradições vinícolas de seus países. Em algumas décadas, tanto o estado quanto sua capital tornariam-se os maiores e mais importantes centros econômicos do Brasil. Tal força econômica era visível na vida política da nação: na virada do século XIX para o século XX, três presidentes foram eleitos com a força do café - Prudente de Morais, Campos Sales e Rodrigues Alves. A fim de manter seu predomínio político, o estado uniria forças ao maior colégio eleitoral do país - Minas Gerais - para manter sua alternância no poder junto a este estado, no que ficou conhecido como política do café com leite, fase da vida política brasileira que perduraria até a Era Vargas.



O início do século XX veria o estado de São Paulo envolto em diversos movimentos e revoltas de cunho político, com o intuito de manter a dominância econômica e política do Estado. No entanto, a grave crise mundial decorrente da quebra da Bolsa de Valores de Nova York em 1929 atingira em cheio as exportações de café, enfraquecendo a posição dos cafeicultores paulistas e consequentemente seus políticos aliados. Tais fatores ajudaram a desencadear as revoltas ocorridas em 1930 e 1932 e o início do governo de Getúlio Vargas. Enquanto isso, desenvolve-se o setor industrial do Estado, em especial nos municípios da atual Grande São Paulo. Com isto, inicia-se grande êxodo rural em direção à capital, que logo torna-se a maior cidade do país. A partir do governo do presidente Juscelino Kubitschek (1956-1961) e a grande industrialização promovida por este, São Paulo assume definitivamente a posição de motor econômico do país, com ênfase no setor automotivo, capitaneado pelos municípios do ABCD - Santo André, São Bernardo do Campo e São Caetano do Sul e Diadema. Na década seguinte, ampliam-se as obras como rodovias, instalação de novos pólos especializados e universidades pelo interior do estado, o que reduziu a força industrial da capital, que tornar-se-ia um pólo financeiro e de serviços. Também assiste-se a um processo de diversificação da agricultura e pecuária no estado - que possui a maior mecanização do Brasil - abrindo espaço, inclusive, para o início de projetos pioneiros em viticultura de qualidade. Ainda que, nos dias de hoje, o crescimento econômico de outros estados seja maior, São Paulo permanece como o principal centro econômico e industrial do continente, bem como o maior mercado consumidor do Brasil.





Cidade de São Paulo, capital do estado homônimo, centro financeiro do Brasil e um dos mais importantes da América Latina.


Sua Localização




Mapa do Estado de São Paulo.



     São Paulo é um estado da República Federativa do Brasil, localizado a sudeste deste pais, delimitado ao norte e a nordeste pelo estado de Minas Gerais, a leste pelo Rio de Janeiro, a oeste pelo estado de Mato Grosso do Sul, a sudeste pelo Oceano Atlântico e ao sul pelo estado do Paraná. Sobre o seu território passa o Trópico de Capricórnio, dividindo o estado entre as zonas tropical e subtropical.



Seu Clima e Solo




Vinhedos da Terrassos - Amparo.



     O estado, em geral, apresenta um macroclima continental, o que contempla suas áreas vitivinícolas, exceto em seu litoral, de macroclima marítimo, porém sem exploração da vinicultura. Há grande amplitude térmica, com dias relativamente quentes e noites frias, e estações bem delineadas.

      O solo em geral é granítico, de boa drenagem, nas principais áreas produtoras. 


Suas Sub-Regiões 




Sede da Vinícola Góes - São Roque.



    São Paulo não possui nenhuma Denominação de Origem (DO) ou Indicação Geográfica de Procedência (IGP). Há dois principais núcleos produtores de vinho no estado:


    São Roque: localizada a 80km da capital paulista, a cidade é uma tradicional estância turística que possui alguns dos mais antigos produtores de vinho do país. Em geral, os vinicultores plantam cepas americanas ou híbridas na região e, para os vinhos "finos", compram ou cultivam as castas do Sul do país (notadamente Cabernet Sauvignon, Merlot, Cabernet Franc e Tannat). Exceção notável é a vinícola Góes, a maior e talvez mais tradicional da região, que vêm testando e cultivando com sucesso cepas viníferas européias;

   Serra da Mantiqueira: neste local, a nordeste do estado e cujas altitudes chegam a 1.300m, surgiram recentemente projetos exemplares no manejo e cultivo da Vitis Vinifera. Aqui o conceito de terroir vêm sendo levado muito a sério, e o mapeamento das melhores cepas para cultivo têm rendido frutos e reconhecimento crescente.


Suas Castas



     Uma vez que não há DOs ou IGPs no estado, há uma ampla variedade de cepas cultivadas. No entanto, vamos nos concentrar em 02 cepas conhecidas que vêm trazendo prestígio a São Paulo, bem como 01 cepa híbrida surpreendente e de boa qualidade.

     A Cabernet Franc têm sua origem no País Basco (Espanha), porém fez seu nome em Bordeaux, França. "Pai" da Cabernet Sauvignon, é uma das cepas permitidas no chamado "corte bordalês", em conjunto com a Cabernet Sauvignon e a Merlot. Nesta região quase sempre possui presença minoritária no blend, com raras (e impressionantes) exceções. Também é bastante cultivada na França no Vale do Loire, dando origem a belos varietais, bem como na Península Ibérica, norte italiano, África do Sul, EUA, Brasil (onde foi, por muito tempo, a cepa vinífera mais cultivada), Uruguai e Argentina, onde vêm ganhando crescente destaque. De boa acidez, amadurecimento precoce e casca violeta e delicada, a Cabernet Franc pode dar origem a bons vinhos de guarda, desde que muito bem vinificada.




Cabernet Franc.



     Talvez uma das cepas mais antigas ainda "em atividade" e, possivelmente, a origem de muitos dos vinhos consumidos pelos romanos, a Syrah têm sua origem atrelada ao cruzamento das cepas Dureza e Mondeuse Blanche, cruzamento este ocorrido nos Alpes do rio Rhône (Ródano), região já apresentada neste blog. Largamente cultivada mundo afora (dentre os principais países produtores, somente a Alemanha não vêm se arriscando com a cepa), a cepa possui dois perfis distintos: no Rhône (em especial no norte, em regiões como Hermitage, Cornas e Côte Rôtie) a longevidade dos varietais de Syrah é proverbial, onde apresentam aromas que remetem ao longo envelhecimento a que são submetidos. Na Austrália, onde adota o nome de Shiraz, a casta apresenta um perfil mais robusto, tânico e frutado. Alguns dos vinhos mais "classicos" do Novo Mundo são feitos à base de Shiraz. De grande adaptabilidade e tolerância a diversos climas, bem como resistente a doenças, a Syrah encontrou em São Paulo (Serra da Mantiqueira) condições climáticas e de solo que a aproximam do perfil francês da cepa.




Syrah.

      
       Cepa resultado do cruzamento da americana Seibel e da francesa Syrah, a Máximo foi criada pela Embrapa (Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária) com o intuito de gerar uma casta de boa produtividade, mantendo as qualidades observadas em vinhos "finos" e adaptabilidade. Foi testada primeiramente na vinícola Terrassos, na Serra da Mantiqueira (município de Amparo) aonde vêm sendo  constantemente experimentada em diferentes métodos de vinificação.




Máximo.



      Outras cepas cultivadas em São Paulo: Sauvignon Blanc, Viognier, Muscat, Chardonnay (brancas), Merlot, Pinot Noir, Petit Verdot e Cabernet Sauvignon (tintas)




Principais produtores


    Segue relação dos ainda poucos (mas de ótima qualidade) produtores do estado de São Paulo. Aqui relacionaremos aqueles que cultivam no estado as uvas a serem vinificadas:

  • Guaspari;
  • Góes;
  • Terrassos;
  • Beraldo di Calle;
  • Marchese di Ivrea.



Complemento: São Bernardo do Campo

     Assim como em São Roque, há uma interessantíssima produção de vinhos artesanais, com uvas compradas do sul do país no município de São Bernardo do Campo, limítrofe à capital do estado. De descendência predominantemente portuguesa ou italiana (povos que se instalaram na região há muito tempo), esses vinicultores artesanais produzem um trabalho competentíssimo com cepas americanas ou européias, elaborando vinhos brancos, espumantes, tintos e até mesmo fortificados. Entre eles, destacamos Catedral do Vinho e Família Boffette.




"Mestre" Almeida, conhecido na região de São Bernardo do Campo, e Sérgio Boffette.







Vinho Avaliado: Catedral do Vinho Moscato Giallo 2016





        Branco nacional, varietal da cepa Moscato Giallo, um dos diversos "ramos" da família Muscat, talvez a mais antiga das cepas viníferas européias. Cultivada especialmente no norte italiano e no Brasil (Rio Grande do Sul - Serra Gaúcha) é uma casta aromática, de bela coloração, mas pouco explorada como varietal. 

      Seu produtor é a Catedral do Vinho, localizada em São Bernardo do Campo/SP, e fundada pelo vinicultor Manuel Rodrigues Almeida. Português da região do Douro (um dos grandes terroirs do mundo), o "Seu Almeida" é bastante conhecido na região, tanto pela qualidade dos vinhos produzidos quanto pelos eventos os quais promovia, como a tradicional "pisa" da uva em lagares (tinas de alvenaria ou madeira onde as uvas são esmagadas com os pés), conforme as tradições lusitanas. Hoje, quem comanda a produção é o seu filho, Daniel, o "Almeidinha" que, além de procurar manter as tradições familiares, realiza interessantes experiências em sua produção de vinhos de mesa (utilizando cepas viníferas americanas), fortificados (americanas ou européias) e este branco o qual será avaliado. Ao vinho:
Análise Visual:
       Límpido na taça, coloração de média intensidade, com halo amarelo palha e belo núcleo dourado, pendendo para o alaranjado;

Análise Olfativa:
       Aromas de média para alta intensidade, primários, com boa tangerina, mel e laranja. Discreto floral;

Análise Gustativa:
      Seco, de acidez alta e sabor cítrico de média para alta intensidade, com notas de mel. Corpo médio para baixo, álcool discretíssimo, persistência correta na boca.

Considerações Finais:
      Cítrico, fresco, preenche bem a boca: isca de peixe, tagliarini ao molho carbonara, risoto de cogumelos com parmesão são bons parceiros para este vinho nacional, de uva italiana e mãos lusitanas.

Pontuação: 90 FRP







Vinho Avaliado: Beraldo di Cale Cabernet Sauvignon 2016






       Tinto nacional, varietal da casta de origem francesa Cabernet Sauvignon, produzido de forma artesanal na cidade de Jundiaí-SP pela Adega Beraldo di Cale, localizada dentro do Sítio Roseira. A Beraldo di Cale possui este nome em homenagem ao Sr. Beraldo, imigrante italiano da cidade de Cittaducale que chegou ao interior paulista em 1905. O gosto natural dos italianos pelo vinho era evidente em Beraldo, que através do seu sítio começou a cultivar cepas de origem americana. Mais recentemente a família começou a produzir vinhos a partir de cepas viníferas européias, como o rótulo da foto. Ao vinho:


Análise Visual:


        Límpido, de média intensidade, um halo rubi claro e um vivaz rubi no núcleo;


Análise Olfativa:


        De média intensidade, notavelmente primário, com boa cereja preta, amora e algo de ameixa;


Análise Gustativa:

      Seco, de acidez acentuada, taninos discretos e bem saboroso, com saborosa fruta negra. Corpo médio, álcool idem, persistência média para baixa.


Considerações Finais:

       Saboroso, vivo, jovem: para o dia-a-dia. Contra-filé, lasanha ao molho sugo e hambúrguer de fraldinha são bons parceiros deste alegre tinto.


Pontuação: 87 FRP





Vinho Avaliado: Terrassos 4 Estações Máximo 2014





      
      Tinto nacional, varietal da cepa híbrida Máximo, produto top de linha da Vinícola Terrassos. A Terrassos surgiu em 2003, na cidade de Amparo-SP, com a obstinação em produzir vinho de qualidade na Serra da Mantiqueira, região que possui grande potencial vitivinícola, porém ainda muito pouco explorado. Após diversos testes e estudos, o enólogo Fábio Luís do Nascimento mapeou 3 cepas as quais poderiam render belos vinhos: a Moscatel, em um incomum perfil "vinho branco" para o Brasil, a Syrah (cepa que parece ser a verdadeira vocação nacional, vide Guaspari em SP, Miolo no Vale do São Francisco e outros esforços no sul do país) e a já citada Máximo. Os primeiros resultados puderam ser vistos a partir de 2010, e aos poucos a Terrassos vêm conquistando prestígio e reconhecimento merecidos. Em recente visita feita à vinícola por este blog, descobrimos que vêm sendo feitos testes com as cepas Sangiovese e Pinot Noir. A acompanhar.


Análise Visual:

       Límpido e de média para alta intensidade na coloração, apresentou halo rubi com reflexos violáceos e núcleo rubi escuro;


Análise Olfativa:

       De intensidade boa, sem exageros e notadamente secundário (passagem por 7 meses em barrica de carvalho francês de segundo uso), com bom caramelo, tabaco e uma ainda presente geleia de frutas vermelhas;


Análise Gustativa:

         Seco e não muito ácido, taninoso e saboroso, com a fruta em compota e toques de fumo na boca. De bom corpo e álcool bem integrado, persiste bem no palato.


Considerações Finais:

        Generoso, voluptuoso, de boa "carne", levemente aveludado e potente: a beber agora ou até 5 anos. Ragu de calabresa com polenta, pernil suíno e ossobuco com batata são sugestões de acompanhamento.


Pontuação: 91 FRP 






Vinho Avaliado: Guaspari Sauvignon Blanc 2013




    
            Nascida em 2001, após estudos minuciosos realizados na região e constatado o potencial do seu "terroir", a Guaspari vêm obtendo resultados muito bons, em especial com seus tintos varietais da cepa Syrah, casta que parece ter se adaptado de forma muito satisfatória ao terroir da região. Ao vinho:



Análise Visual:

Visual límpido, de baixa intensidade, apresentando borda aquosa e núcleo amarelo palha;


Análise Olfativa:

Aromas de boa qualidade, de média para alta intensidade. Aromas primários, cítricos e algo de maracujá. Toque floral. Interessante untuosidade;


Análise Gustativa:

Seco, bem ácido, sabor de intensidade média para alta, lembrando maçã verde e frutas brancas em geral. Corpo médio para alto, álcool médio, ótima persistência.


Considerações Finais:

De boa tipicidade quanto à cepa e qualidade, e algo untuoso, muito interessante. Pronto para beber.




Pontuação: 90 FRP







Vinho Avaliado: Guaspari Vista do Chá 2012





Análise Visual:
        Límpido na taça, visual de intensidade media, apresenta rubi claro em sua borda e mais intenso no núcleo;


Análise Olfativa:

      Boa qualidade no nariz e intensidade aromática média, apresenta caráter secundário: baunilha e caramelo, mas ainda com toques primários de especiarias e fruta negra;


Análise Gustativa:

       Seco, de acidez média para baixa e taninos equilibrados, apresenta sabor idem, remetendo a condimentos e fruta negra compotada. Corpo elegante, álcool idem e persistência média para alta.



Considerações Finais: 

       Elegante, gostoso e de boa estrutura, um típico Syrah, que pode passar desapercebido como um rótulo do Velho Mundo. Pronto para beber, mas guardar por mais uns 4 anos não seria má idéia. Outro rótulo que faz jus às premiações recebidas. Clássico.


Pontuação: 93 FRP





Vinho Avaliado: Guaspari Vale da Pedra 2015






Análise Visual:

         Límpido na coloração, apresenta média intensidade na taça, com borda rubi clara e núcleo rubi;


Análise Olfativa:

       Aromas de média intensidade, notadamente primários, com boa fruta negra compotada e alguma especiaria;


Análise Gustativa:

       Seco e de acidez média, taninos médios e redondos, sabor apresentando média intensidade, com muita ameixa, figo e pimenta preta. Corpo médio, álcool médio para alto, persistência média na boca.


Considerações Finais:


        Fresco, de ótima tipicidade de cepa e estilo (Syrah jovem) e alguma "carne". Ensopados, carne de porco leve e aves de caça são boa pedida.


Pontuação: 90 FRP







Vinho Avaliado: Guaspari Vista da Serra 2012


  



Análise Visual:

Visual límpido, de média intensidade. Sua borda é rubi claro, com núcleo rubi escuro, de boa profundidade;


Análise Olfativa:

De ótima qualidade e média para alta intensidade, de caráter predominantemente secundário: baunilha, café, caramelo e fruta negra madura bem presentes;


Análise Gustativa:

Seco, de acidez média para baixa e taninos equilibrados, bem como sua intensidade de sabor, apresenta fruta negra amarga, notas defumadas, especiaria na boca. Corpo médio para alto, álcool bem integrado e excelente persistência.


Considerações Finais:

            De excelente estrutura e tipicidade, ainda a desenvolver por mais alguns anos, porém já pode ser bebido sem medo. Cheio na boca, imponente. Faz jus aos prêmios conquistados.



Pontuação: 93 FRP





Vinho Avaliado: Guaspari Vista da Mata 2014  







Análise Visual:


        Límpido e de média intensidade na taça, apresenta borda rubi clara e núcleo rubi;


Análise Olfativa:

       Aromas de boa qualidade e média intensidade para alta, apresenta caráter secundário no nariz: eucalipto, menta, baunilha e ameixa madura bem marcadas;


Análise Gustativa:

        Seco e de acidez média para alta na boca, taninos equilibrados e sabor idem, com muita fruta negra e café. Bem encorpado e álcool muito bem integrado, persistência muito boa.


Considerações Finais:


      Ainda muito a evoluir, mas já mostrou ótima qualidade. Boa estrutura, uma bela reprodução do “corte bordalês”: ainda se beneficiará de guarda por uns 8 a 10 anos. Potencial para a conquista de novos prêmios para a vinícola.


Pontuação: 92 FRP





Vinho Avaliado: Góes Tempos Philosophia Cabernet Franc Reserva 2014 







       Tinto nacional, varietal desta bela cepa bordalesa, produzido pela tradicionalíssima vinícola paulista de São Roque.

        Fundada em 1938 pelo casal Benedito Moraes de Góes e Maria das Dores Lima de Góes, a vinícola Góes está instalada no bairro Canguera, e desde os anos 1980, graças à tenacidade e ritmo infatigável de Gumercindo Góes, uma série de investimentos e aquisições, seja de terras, treinamentos ou de equipamentos, transformaram o seu perfil, ainda culturalmente associado aos seus famosos vinhos de mesa. Em 1985, adquirem a marca e instalações da Quinta Jubair, que viriam a servir futuramente como campo experimental; quatro anos depois, em busca de terroirs os quais pudessem explorar variedades viníferas européias, adquirem em Flores da Cunha-RS a Casa Venturini, ingressando definitivamente no mundo dos vinhos "finos". Desde então, a Góes vêm aos poucos obtendo em São Roque resultados cada vez mais satisfatórios e surpreendentes: o ápice, até o momento é, sem dúvida, o vinho degustado, premiado recentemente na 22 Avaliação Nacional de Vinhos. Ao vinho:


Análise Visual:
        Visual límpido, de média intensidade, apresentando borda rubi-clara com reflexos violáceos e núcleo rubi;


Análise Olfativa:

        Aromas de média intensidade, primário, frutado, pimenta preta e algo de erva-mate, e outras especiarias;


Análise Gustativa:
      Seco, de alta acidez, taninos um pouquinho ásperos, corpo de média intensidade, sabor apimentado, picante, álcool intenso, bela persistência. Final correto. 



Considerações Finais:
      Competente, bem trabalhado: expressa em muitos aspectos o perfil típico da Cabernet Franc. A rápida passagem por barricas de carvalho talvez seja o fator diferenciador mais notável, o que pode se tornar uma "assinatura" futuramente. Sugestões de harmonização: cordeiro assado, carne vermelha de caça, aves em geral, ensopados de sabor pronunciado e pizzas à base de calabresa.


Pontuação: 90 FRP.








Fontes:


Wikipedia:
https://pt.wikipedia.org/wiki/S%C3%A3o_Paulo

Vinhos e Lugares:
http://vinhoselugares.blogspot.com.br/2014/04/os-primeiros-vinhedos-no-brasil.html

Estado de São Paulo:
http://sao-paulo.estadao.com.br/noticias/geral,quando-o-tiete-era-navegavel,1767075

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